O Conde de Monte Cristo - Cap. 29: Acasa Morrel Pág. 241 / 1080

Num abrir e fechar de olhos a lancha estava no mar e nós oito dentro dela.

«- O comandante foi o último a descer, ou antes, não, não desceu, porque não queria deixar o navio. Eu é que o agarrei pela cintura e o atirei aos camaradas, e em seguida saltei.

Era tempo. Mal acabei de saltar a coberta partiu-se com um barulho que parecia a bordada de um navio de guerra de quarenta e oito.

«- Dez minutos depois, mergulhou de proa, em seguida de popa e depois pôs-se a girar sobre si mesmo como um cão a correr atrás do rabo. E por fim, acabou-se. Pronto, está tudo dito, acabou-se o Pharaon!

«- Quanto a nós, passámos três dias sem comer nem beber, e já falávamos em tirar à sorte quem alimentaria os outros quando vimos a Cironde. Fizemos-lhe sinais, ela viu-nos, aproou a nós, mandou-nos a sua lancha e recolheu-nos. Aqui tem o que se passou, Sr. Morrel, palavra de honra! Palavra de marinheiro! Não é verdade, rapazes?

Um murmúrio geral de aprovação indicou que o narrador conquistara todos os sufrágios pela veracidade do fundo e pelo pitoresco dos pormenores.

- Bom, meus amigos - disse o Sr. Morrel -, todos vocês são homens honrados e eu sabia antecipadamente que na desgraça que me atingia só havia um culpado: o meu destino. Trata-se da vontade de Deus e não de culpa dos homens. Respeitemos a vontade de Deus. Agora, quanto lhes é devido de soldo?

- Ora, não falemos disso, Sr. Morrel!

- Pelo contrário, falemos - redarguiu o armador, com um sorriso triste.

- Bom, devem-no três meses... - disse Penelon

- Coclès, pague duzentos francos a cada um destes dignos homens. Noutra época, meus amigos - continuou Morrel -, acrescentaria: «E dê a cada um duzentos francos de gratificação.» Mas os tempos estão maus, meus amigos, e o pouco dinheiro que me resta já não me pertence. Desculpem-me portanto e não sejam menos meus amigos por isso.

Penelon fez uma careta de comoção, virou-se para os companheiros, trocou algumas palavras com eles e voltou-se de novo:

- Quanto a isso, Sr. Morrel - disse passando o tabaco de mascar de um lado para o outro da boca e lançando na antecâmara segundo jacto de saliva que foi emparelhar com o primeiro -, quanto a isso...

- Quanto a isso o quê?

- Do dinheiro...

- Sim...

- Bom, Sr. Morrel, os camaradas dizem que de momento lhes chega cinquenta francos a cada um e que esperarão pelo resto.

- Obrigado, meus amigos, obrigado! - exclamou o Sr. Morrel, profundamente comovido. - Têm todos excelente coração. Mas recebam, recebam, e se arranjarem um bom lugar aproveitem-no, pois estão livres.

Esta última parte da frase produziu efeito prodigioso sobre os dignos marinheiros, que se entreolharam com ar desorientado.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069