Quanto a mim, para o pôr à vontade, informo-o de que costumam tratar-me por Simbad, o Marinheiro.
- E eu - redarguiu Franz - dir-lhe-ei que, como para estar na situação de Aladino só me falta a famosa lâmpada maravilhosa, não vejo nenhum inconveniente em que, de momento, me trate por Aladino. Isso não nos tirará do Oriente, onde sou tentado a crer que fui transportado pelo poder de algum génio.
- Muito bem, Sr. Aladino! - concordou o estranho anfitrião. - Ouvi dizer que estávamos servidos, não é verdade? Queira pois dar-se o ao incómodo de entrar na sala de jantar. O seu humilíssimo servidor passa-lhe adiante para lhe indicar o caminho.
E, ditas estas palavras, Simbad levantou o reposteiro e passou efectivamente à frente de Franz.
Este ia de encantamento em encantamento. A mesa estava esplendidamente servida. Uma vez esclarecido acerca deste importante ponto, olhou à sua volta. A sala de jantar não era menos esplêndida do que a que acabara de deixar. Era toda de mármore, adornavam-na baixos-relevos antigos valiosíssimos e nas duas extremidades da sala, que era oblonga, viam-se duas estátuas magníficas com cestos à cabeça. Os cestos continham duas pirâmides de frutos excelentes: ananases da Sicília, romãs de Málaga, laranjas das ilhas Baleares, pêssegos de França e tâmaras da Tunísia.
Quanto à ceia, compunha-se de um faisão assado rodeado de melros da Córsega, de perna de javali com geleia, de um quarto de cabrito à tártaro, de um rodovalho magnífico e de uma gigantesca lagosta. Os intervalos dos pratos principais eram preenchidos com pratinhos de acepipes. As travessas eram de prata e os pratos de porcelana do Japão.
Franz esfregou os olhos para ter a certeza de que não sonhava.
Ali só era admitido para cuidar do serviço, do qual se desempenhava muitíssimo bem O hóspede cumprimentou por isso o seu anfitrião.
- Sim - concordou este, sem deixar de fazer as honras da ceia com o maior à-vontade. - Sim, é um pobre diabo que me é muito dedicado e que procura servir-me o melhor que pode. Lembra-se de que lhe salvei a vida, e como parece que tinha a cabeça em grande conta guarda-me algum reconhecimento por lha ter conservado.
Ali aproximou-se do amo, pegou-lhe na mão e beijou-lha.
- Seria demasiado indiscreto, Sr. Simbad - disse Franz -, se lhe perguntasse em que circunstâncias praticou essa bela acção?
- Oh, meu Deus, foi muito simples! - respondeu o anfitrião. - Parece que o brejeiro andara a rondar as imediações do serralho do bei de Tunes, o que não era conveniente da parte de um figurão da sua cor.