Franz teve a sensação de fechar os olhos e de, através do último olhar que lançava à sua volta, entrever a estátua pudica, que se velava inteiramente. Depois de os olhos se lhe fecharem para as coisas reais, os seus sentidos abriram-separa as impressões impossíveis.
Seguiu-se uma volúpia sem tréguas, um amor sem repouso, como o que o profeta prometia aos seus eleitos. Então, todas aquelas bocas de pedra adquiriram vida, todos aqueles peitos se tornaram quentes a ponto de para Franz, que suportava pela primeira vez os efeitos do haxixe, aquele amor ser quase uma dor e aquela volúpia quase uma tortura quando sentia roçarem-lhe a boca inquieta os lábios daquelas estátuas flexíveis e frias como os anéis de uma cobra. Mas quanto mais os seus braços tentavam repelir aquele amor desconhecido, tanto mais os seus sentidos se vergavam ao encanto do sonho misterioso, de modo que, depois de uma luta em que pôs toda a sua alma, se abandonou sem reservas e acabou por sucumbir anelante, exausto de fadiga e volúpia, aos beijos daquelas amantes de mármore e ao feitiço daquele sonho inaudito.