Assim que os noivos e aqueles que os acompanhavam chegaram à vista da Réserve, o Sr. Morrel desceu e foi por sua vez ao encontro deles, seguido dos marinheiros e dos soldados com que ficara e aos quais renovara a promessa já feita a Dantès deque este sucederia ao comandante Leclère. Ao vê-lo chegar, Edmond largou o braço da noiva e passou-o para o do Sr. Morrel. O armador e a jovem deram então o exemplo e subiram à frente a escada de madeira que levava à sala onde o banquete estava servido e que rangeu durante cinco minutos sob os passos pesados dos convivas.
- Meu pai - disse Mercédès, parando a meio da mesa e dirigindo-se ao velho Dantès -, fique à minha direita, peço-lhe. Quanto à minha esquerda reservo-a para aquele que me serviu de irmão - declarou com uma doçura que penetrou profundamente no coração de Fernand como uma punhalada.
Os seus lábios empalideceram e sob o tom bistrado do seu rosto desagradável foi possível ver mais uma vez o sangue desaparecer pouco a pouco para afluir ao coração.
Entretanto, Dantès executara a mesma manobra: à sua direita colocara o Sr. Morrel: à sua esquerda, Danglars. Depois, com a mão, fizera sinal a todos para se sentarem onde quisessem.
Pouco depois corriam à volta da mesa os salsichões de Arles, de carne bem curada e aroma acentuado: as lagostas de carapaça fascinante; as palurdas de concha rosada; os ouriços-do-mar, que parecem castanhas no seu invólucro espinhoso; as amêijoas, que têm a pretensão de substituir com vantagem, na opinião dos gastrónomos do Meio- Dia, as ostras do Norte; enfim, todos esses acepipes delicados que as vagas lançam nas margens arenosas e que os pescadores reconhecidos designam pelo nome genérico de mariscos.
- Que estranho silêncio! - observou o velhote, saboreando um copo de vinho dourado como o topázio que o Tio Pamphile em pessoa acabava de colocar diante de Mercédès. - Dir-se-ia que não estão aqui trinta pessoas que só desejam rir...
- Eh, um marido nem sempre está alegre! - exclamou Caderousse.
- A verdade - confessou Dantès - é que me sinto neste momento demasiado feliz para estar alegre. Se é isto que quer dizer, vizinho, tem razão. A alegria causa às vezes um efeito estranho, oprime como a dor.
Danglars observou Fernand, cuja natureza impressionável absorvia e refletia todas as emoções.
- Então, ainda receia alguma coisa? - perguntou a Dantès. - Parece-me, pelo contrário, que tudo corre de acordo com os seus desejos!
- É precisamente isso que me assusta - respondeu Dantès. Parece- me que o homem não nasceu para ser tão facilmente feliz! A felicidade é como esses palácios das ilhas encantadas que têm as portas guardadas por dragões.