- Com certeza! O conde de Monte-Cristo tem o hábito de ser muito madrugador e estou certo de que se encontra levantado há mais de duas horas.
- E parece-lhe que não haverá indiscrição em nos apresentarmos nos seus aposentos agora?
- Nenhuma.
- Nesse caso, Albert, se está pronto...
- Inteiramente pronto - respondeu Albert
- Então, vamos agradecer ao nosso vizinho a sua cortesia.
- Vamos! Franz e Albert só tinham de atravessar o patamar. O hoteleiro adiantou-se-lhes e tocou por eles. Um criado veio abrir.
- Sígnori Francesi - disse o hoteleiro.
O criado inclinou-se e fez-lhes sinal para entrarem.
Atravessaram duas divisões mobiladas com um luxo que não esperavam encontrar no hotel de mestre Pastrini, e chegaram por fim a uma sala de uma elegância perfeita. Cobria o chão um tapete turco e os móveis mais confortáveis ofereciam as suas almofadas bem cheias e os seus encostos inclinados para trás.
Das paredes pendiam magníficos quadros de mestres, intercalados com troféus de armas esplêndidas. Diante das portas adejavam grandes reposteiros de tapeçaria.
- Se Suas Excelências se quiserem sentar, vou prevenir o Sr. Conde - disse o criado.
E desapareceu por uma das portas.
Quando a porta se abriu chegou aos ouvidos dos dois amigos o som de uma guzla, mas extinguiu-se imediatamente. A porta, fechada quase ao mesmo tempo que fora aberta, apenas deixara por assim dizer penetrar na sala uma lufada de harmonia.
Franz e Albert entreolharam-se e percorreram com a vista os móveis, os quadros e as armas. Tudo aquilo lhes pareceu, à segunda vista, ainda mais magnífico do que à primeira.
- Então que diz a isto? - perguntou Franz ao amigo.
- Digo, meu caro, que o nosso vizinho é algum corretor que jogou na baixa dos fundos espanhóis ou algum príncipe que viaja incógnito.
- Caluda! - atalhou Franz. - Isso é o que vamos saber, pois ele vem aí.
Com efeito, o ruído de uma porta girando nos gonzos acabava de chegar aos ouvidos dos visitantes. E quase ao mesmo tempo o reposteiro abriu-se e deu passagem ao proprietário de todas aquelas riquezas.
Albert avançou ao seu encontro, mas Franz ficou pregado no seu lugar.
Aquele que acabava de entrar era nem mais nem menos do que o homem da capa do Coliseu, o desconhecido do camarote e o anfitrião misterioso de Monte-Cristo.