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Capítulo 35: A Mazzolata

Página 337

Entretanto, os dois condenados continuavam a dirigir-se para o cadafalso, e à medida que avançavam podiam distinguir-se-lhes as feições. Peppino era um belo moço de vinte e quatro a vinte e seis anos, de pele queimada pelo sol e olhar ousado e bravio. Vinha de cabeça levantada e parecia farejar o vento para ver de que lado lhe viria o seu libertador.

Andrea era gordo e baixo. A sua cara, repugnantemente cruel, não indicava idade. Podia no entanto contar trinta anos, pouco mais ou menos. Deixara crescer a barba na prisão. Inclinava a cabeça sobre um dos ombros e as pernas dobravam-se-lhe debaixo dele. Todo o seu ser parecia obedecer a um movimento maquinal, no qual a sua vontade já não intervinha.

- Parece-me - disse Franz ao conde - que me anunciara que só haveria uma execução.

- E disse-lhe a verdade - respondeu o conde, friamente.

- No entanto, estão ali dois condenados...

- Pois estão. Mas desses dois condenados um morrerá e o outro terá ainda longos anos de vida.

- Parece-me que se o perdão deve vir não há tempo a perder.

- Por isso aí vem. Veja - redarguiu o conde.

Com efeito, no momento em que Peppino chegava ao pé da mandaïa, um penitente que parecia vir atrasado passou através da ala sem que os soldados lhe impedissem a passagem, dirigiu-se ao chefe da confraria e entregou-lhe um papel dobrado em quatro.

O olhar ardente de Peppino não perdera nenhum destes pormenores. O chefe da confraria desdobrou o papel, leu-o e levantou a mão.

- O Senhor seja bendito e Sua Santidade seja louvado! - disse em voz alta e inteligível. - Há perdão da vida para um dos condenados.

- Perdão! - gritou o povo em uníssono. - Há perdão!

Ao ouvir a palavra «perdão», Andrea pareceu saltar e levantou a cabeça.

- Perdão para quem? - gritou.

Peppino ficou imóvel, mudo e arquejante.

- Há perdão da pena de morte para Peppino, também conhecido por Rocca Priori - respondeu o chefe da confraria.

E passou o papel ao capitão que comandava os carabineiros, o qual, depois de o ler, lho restituiu.

- Perdão para Peppino! - gritou Andrea, inteiramente fora do estado de torpor em que parecia mergulhado. - Porquê perdão para ele e não para mim? Devíamos morrer juntos. Tinham-me prometido que ele morreria antes de mim e não têm o direito de me fazer morrer sozinho. Não quero morrer sozinho, não quero! E arrancou-se dos braços dos dois padres, contorcendo-se, gritando, rugindo, fazendo esforços insensatos para quebrar as cordas que lhe prendiam as mãos.

O carrasco fez sinal aos seus dois ajudantes, que saltaram do cadafalso e vieram apoderar-se do condenado.

- Que se passa? - perguntou Franz ao conde.

Porque como aquilo decorria em dialecto romano, não compreendera muito bem.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 337

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069