- O rei disse isso, conde? - exclamou Villefort, extasiado.
- Foram as suas próprias palavras, e se o marquês quiser ser franco confessará que o que acabo de dizer se harmoniza perfeitamente com o que o rei lhe disse a ele próprio quando lhe falou, há seis meses, de um projeto de casamento entre a filha e você
- É verdade - confirmou o marquês.
- Oh, deverei tudo a esse digno príncipe! Por isso, que não farei para o servir! - Ora até que enfim! - disse a marquesa. - É assim que gosto de o ver. Se neste momento aparecesse um conspirador, seria bem-vindo.
- Pois eu, minha mãe - atalhou Renée -, peço a Deus que a não escute e envie ao Sr. de Villefort apenas uns ladrõezecos, modestos falidos e tímidos vigaristas. Se assim acontecer, dormirei tranquila.
- É como se desejasse ao médico enxaquecas, sarampos e picadas de vespas, tudo coisas que afetam apenas a epiderme observou Villefort, rindo - Ora se, pelo contrário, me quiser ver procurador régio deseje-me dessas doenças terríveis cuja cura honra o médico.
Neste momento, e como se o acaso nada mais tivesse esperado do que a formulação do desejo de Villefort para o satisfazer, entrou um criado que lhe disse algumas palavras ao ouvido. Villefort pediu licença para deixar a mesa e voltou pouco depois de rosto aberto e lábios sorridentes.
Renée olhou-o com amor. Porque visto assim, com os seus olhos azuis, a sua tez mate e as suas suíças pretas, que lhe emolduravam o rosto, era realmente um elegante e bonito jovem. Por isso, todo o espírito da jovem pareceu ficar suspenso dos seus lábios enquanto esperava que ele explicasse a causa do seu desaparecimento momentâneo.
- Bom - disse Villefort -, há pouco ambicionava, Mademoiselle, ter por marido um médico. Ora eu tenho com os discípulos de Esculápio (ainda se falava assim em 1815) pelo menos esta semelhança: nunca me pertence o momento que passa, vêm incomodar-me mesmo junto de si, mesmo no meu banquete de noivado.
- E por que motivo o incomodaram, senhor? - perguntou a linda jovem, com uma ligeira inquietação.
- Oh, por causa de um doente que, a crer no que me disseram, se deve encontrar em estado desesperado! Desta vez trata-se de um caso grave e a doença anda perto do cadafalso! - Oh, meu Deus! - exclamou Renée, empalidecendo.
- Sim?! - disseram em uníssono os convivas.
- Parece que se acaba de descobrir, muito simplesmente, uma conspiraçãozinha bonapartista...