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Capítulo 45: A chuva de sangue

Página 446
Caderousse estava sentado ao lado de uma mesa comprida, num dos bancos de madeira que nas estalagens de aldeia substituem as cadeiras. Virava-me as costas, de forma que não lhe podia ver a cara. Aliás, mesmo que estivesse na posição contrária também lha não veria, pois tinha a cabeça escondida nas mãos.

«A Carconte olhou-o durante algum tempo, e encolheu os ombros e foi sentar-se diante dele.

«Naquele momento a chama moribunda pegou logo a um resto de lenha seca até ali esquecido e um clarão um pouco mais vivo iluminou o sombrio interior. A Carconte tinha os olhos cravados no marido, e como ele continuasse sempre na mesma posição, vi-a estender a mão na sua direcção e tocar-lhe na testa.

«Caderousse estremeceu. Pareceu-me que a mulher movia os lábios, mas quer porque falasse muito baixo, quer por os meus sentidos estarem já embotados pelo sono, as suas palavras não chegaram até mim. Já via apenas através de um nevoeiro e com a incerteza precursora do sono, durante a qual julgamos começar a sonhar. Por fim os olhos fecharam-se-me e perdi a consciência de mim mesmo.

«Encontrava-me mergulhado no sono mais profundo quando fui acordado por um tiro de pistola, seguido de um grito horrível. Passos cambaleantes soaram no sobrado do quarto e uma massa inerte veio cair na escada, precisamente por cima da minha cabeça.

«Não estava ainda bem senhor de mim quando ouvi gemidos e depois gritos abafados, como os que acompanham uma luta.

«Um derradeiro grito, mais prolongado do que os outros e que degenerou em gemidos, tirou-me completamente da minha letargia.

«Soergui-me num braço, abri os olhos, que não viram nada nas trevas, e levei a mão à testa, sobre a qual me parecia cair através das tábuas da escada uma chuva morna e abundante.

«O mais profundo silêncio sucedera àquele barulho horrível.

Ouvi os passos de um homem que caminhava por cima da minha cabeça, os quais a certa altura fizeram estalar a escada. O homem desceu à sala inferior, aproximou-se da chaminé e acendeu uma vela.

«O homem era Caderousse. Estava pálido e tinha a camisa toda ensanguentada.

«Com a vela acesa voltou a subir rapidamente a escada e ouvi de novo os seus passos rápidos e inquietos.

«Um instante depois tornou a descer. Trazia o estojo na mão.

«Assegurou-se de que o diamante se encontrava lá dentro, procurou um momento em qual das algibeiras o meteria, e em seguida, decerto por não considerar as algibeiras esconderijo bastante seguro, enrolou-o no seu lenço de assoar encarnado, que atou ao pescoço.

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pág. 446 (Capítulo 45)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 446

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069