- O álbum... - pediu Edouard.
- Como, o álbum?
- Sim, quero o álbum...
- Porque recortou as gravuras?
- Porque isso me diverte.
- Vá-se embora! Vá!
- Não vou se não me der o álbum - replicou o garoto, sentando-se num cadeirão, fiel ao seu hábito de nunca ceder.
- Tome e deixe-nos tranquilos - disse a Sr.ª de Villefort.
E deu o álbum a Edouard, que saiu, acompanhado da mãe. O conde seguiu com a vista a Sr.ª de Villefort.
- Vejamos se ela fecha a porta... - murmurou Monte-Cristo.
A Sr.ª de Villefort fechou a porta com o maior cuidado depois de o garoto sair. O conde não pareceu dar por isso. Depois, a jovem senhora olhou à sua volta e sentou-se novamente na sua conversadeira.
- Permita-me que lhe observe, minha senhora - disse o conde com a bonomia que lhe conhecemos -, que é muito severa com aquele encantador maganão.
- Assim é preciso, senhor - explicou a Sr.ª de Villefort, com autênticos ares de mãe severa.
- O Sr. Edouard recitava o seu Cornélio Nepos quando se referia ao rei Mitridates - observou o conde -, e a senhora interrompeu-o numa citação que prova que o seu preceptor não tem perdido o seu tempo com ele e que o seu filho está muito adiantado para a idade.
- De facto, senhor - respondeu a mãe, agradavelmente lisonjeada -, tem uma grande facilidade e aprende tudo o que quer. Só tem um defeito, ser muito voluntarioso. Mas, a propósito do que ele dizia, acha, Sr. Conde, que por exemplo Mitridates se daria ao incómodo de tomar tais precauções e que essas precauções fossem eficazes?
- Tanto acho, minha senhora, que eu, que lhe falo, as tomei para não ser envenenado em Nápoles, Palermo e Esmirna, isto é, em três ocasiões em que, sem essa precaução, poderia ter perdido a vida.
- E o meio que empregou deu-lhe resultado?
- Perfeitamente.
- Sim, é verdade, lembro-me de já me ter contado qualquer coisa desse género em Perúsia.
- Deveras? - perguntou o conde, com uma surpresa admiravelmente simulada. - Não me lembro...
- Perguntava-lhe se os venenos actuavam igualmente e com idêntica energia sobre os homens do Norte e sobre os homens do Meio-Dia, e o senhor respondia-me que os temperamentos frios e linfáticos dos Setentrionais não representavam a mesma aptidão que a rica e enérgica natureza das pessoas do Meio-Dia.
- É verdade - reconheceu Monte-Cristo. - Vi russos devorar, sem serem incomodados, substâncias vegetais que matariam infalivelmente um napolitano ou um árabe.