O Conde de Monte Cristo - Cap. 56: Andrea Cavalcanti Pág. 549 / 1080

- Na verdade, senhor, tudo o que me acaba de contar é interessantíssimo - declarou o conde, observando com sombria satisfação aquele rosto decidido, dotado de uma beleza semelhante à do anjo mau - e fez muitíssimo bem em respeitar integralmente as indicações do meu amigo Simbad, porque o seu pai está de facto aqui e procura-o.

Desde que entrara na sala o conde não perdera de vista o rapaz. Admirara a segurança do seu olhar e a firmeza da sua voz. Mas ao escutar estas palavras tão naturais: «- O seu pai está de facto aqui e procura-o», o jovem Andrea deu um salto - exclamou:

- O meu pai! O meu pai está aqui?...

- Sem dúvida - respondeu Monte-Cristo. - O seu pai, major Bartolomeo Cavalcanti.

A expressão de terror que surgira no rosto do rapaz desapareceu quase imediatamente.

- Ah, sim, é verdade, o major Bartolomeo Cavalcanti!... E diz, Sr. Conde, que ele está aqui, o querido pai?

- Sim, senhor. E acrescento até que o deixei agora mesmo e que a história que me contou a respeito do filho querido raptado outrora me impressionou muito. Na verdade, os seus sofrimentos, os seus temores e as suas esperanças dariam um poema comovedor. Enfim, recebeu um dia notícias que lhe anunciavam que os raptores do filho estavam dispostos a entregá-lo ou a indicar onde se encontrava mediante um resgate bastante grande e nada conteve esse bom pai. O resgate foi enviado para a fronteira do Piemonte, com um passaporte todo visado para a Itália. O senhor encontrava-se no Sul da França, não é verdade?

- É, sim, senhor - respondeu Andrea, com ar bastante embaraçado. - Sim, estava no Sul da França.

- E uma carruagem devia esperá-lo em Nice?

- Exactamente, senhor. Essa carruagem levou-me de Nice a Génova, de Génova a Turim, de Turim a Chambéry, de Chambéry a Pont-de- Beauvoisin e de Pont-de- Beauvoisin a Paris.

- Óptimo! Ele esperava encontrá-lo a todo o momento no caminho, por ser essa a estrada que ele próprio seguia. Foi até por isso que o seu itinerário foi traçado assim.

- Mas - observou Andrea - se me tivesse encontrado, o querido pai, duvido que me reconhecesse; mudei um bocado desde que ele me perdeu de vista.

- Oh, a voz do sangue!... - exclamou Monte-Cristo.

- Sim, é verdade, não pensei na voz do sangue.

- Agora - prosseguiu Monte-Cristo - só uma coisa preocupa o marquês Cavalcanti: o que o senhor fez enquanto estava separado dele, como foi tratado pelos seus raptores, se lhe dispensaram todas as atenções que lhe eram devidas pelo seu nascimento e finalmente se o sofrimento moral a que esteve exposto, sofrimento cem vezes pior do que o sofrimento físico, lhe não enfraqueceu de algum modo as faculdades de que a natureza tão generosamente o dotou e se se considera capaz de reassumir e manter dignamente por si mesmo na sociedade o lugar que lhe compete.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069