Passado um instante, murmurou:
- Oh, meu Deus, de que dependem a vida e a fortuna!... Se o procurador régio estivesse em Marselha, se o juiz de instrução tivesse sido chamado em meu lugar, estaria perdido: aquele papel, aquele papel maldito precipitar-me-ia no abismo. Ah, meu pai, meu pai! Será sempre um obstáculo à minha felicidade neste mundo e deverei lutar eternamente com o seu passado? Depois, de súbito, um clarão inesperado pareceu passar-lhe pelo espírito e iluminou-lhe o rosto; desenhou-se-lhe um sorriso na boca ainda crispada e os seus olhos assustados tornaram-se fixos e pareceram deter-se num pensamento.
- É isso - disse. - Sim, essa carta que me devia perder talvez faça a minha fortuna. Vamos, Villefort, mãos à obra.
E depois de se assegurar de que o arguido já não estava na antecâmara, o substituto do procurador régio saiu por seu turno e dirigiu-se rapidamente para casa da noiva.