O Conde de Monte Cristo - Cap. 57: O campo de Luzerna Pág. 565 / 1080

Nunca jogo, pois não sou suficientemente rico para poder perder, nem bastante pobre para desejar ganhar. Mas estava em minha casa, compreende, e não tinha outra coisa a fazer senão mandar buscar cartas, e foi o que fiz.

«Quando nos sentávamos à mesa chegou o Sr. de Monte-Cristo. Tomou o seu lugar, jogámos e ganhei. Quase me não atrevo a dizer-lhe isto, Valentine: ganhei... cinco mil francos. Separámo-nos à meia-noite. Incapaz de me conter, meti-me num cabriolé e fiz-me conduzir a casa do meu alquilador. Palpitante, febril, toquei. Quem veio abrir deve ter-me tomado por um louco. Corri para o outro lado da porta mal abriram. Entrei na cavalariça e olhei para as manjedouras. Que sorte! Médéah tasquinhava o seu feno. Corri para uma sela, coloquei-lha eu próprio, pus-lhe o freio e Médéah prestou-se com a melhor boa vontade do mundo a esta operação! Depois, depositei os quatro mil e quinhentos francos nas mãos do alquilador estupefacto, saí e passei a noite a passear nos Campos Elísios. Vi luz na janela do conde e pareceu-me distinguir a sua sombra atrás das cortinas. Agora, Valentine, juraria que o conde soube que eu desejava o cavalo e perdeu de propósito para eu ganhar.

- Meu querido Maximilien, é, na verdade, demasiado imaginativo - redarguiu Valentine. - Não me amará muito tempo... Um homem que compõe assim poesia seria incapaz de estiolar sem motivo numa paixão monótona como a nossa... Mas, valha-me Deus, estão a chamar-me... não ouve?!

- Valentine - pediu Maximilien através do buraquito do tapume -, dê-me o seu dedo mendinho para que o beije...

- Maximilien, tínhamos prometido que seríamos um para o outro duas vozes, duas sombras!

- Como queira, Valentine.

- Ficaria feliz se fizesse o que deseja?

- Oh, sim! Valentine subiu para um banco e passou, não o dedo mendinho pela abertura, mas sim a mão toda por cima do tapume.

Maximilien soltou um grito e, subindo por seu turno para o marco, pegou naquela mão adorada e aplicou-lhe os lábios ardentes. Mas a mãozinha fugiu-lhe imediatamente por entre as suas e o rapaz ouviu correr Valentine, talvez assustada com a sensação que acabava de experimentar.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069