«Quando nos sentávamos à mesa chegou o Sr. de Monte-Cristo. Tomou o seu lugar, jogámos e ganhei. Quase me não atrevo a dizer-lhe isto, Valentine: ganhei... cinco mil francos. Separámo-nos à meia-noite. Incapaz de me conter, meti-me num cabriolé e fiz-me conduzir a casa do meu alquilador. Palpitante, febril, toquei. Quem veio abrir deve ter-me tomado por um louco. Corri para o outro lado da porta mal abriram. Entrei na cavalariça e olhei para as manjedouras. Que sorte! Médéah tasquinhava o seu feno. Corri para uma sela, coloquei-lha eu próprio, pus-lhe o freio e Médéah prestou-se com a melhor boa vontade do mundo a esta operação! Depois, depositei os quatro mil e quinhentos francos nas mãos do alquilador estupefacto, saí e passei a noite a passear nos Campos Elísios. Vi luz na janela do conde e pareceu-me distinguir a sua sombra atrás das cortinas. Agora, Valentine, juraria que o conde soube que eu desejava o cavalo e perdeu de propósito para eu ganhar.
- Meu querido Maximilien, é, na verdade, demasiado imaginativo - redarguiu Valentine. - Não me amará muito tempo... Um homem que compõe assim poesia seria incapaz de estiolar sem motivo numa paixão monótona como a nossa... Mas, valha-me Deus, estão a chamar-me... não ouve?!
- Valentine - pediu Maximilien através do buraquito do tapume -, dê-me o seu dedo mendinho para que o beije...
- Maximilien, tínhamos prometido que seríamos um para o outro duas vozes, duas sombras!
- Como queira, Valentine.
- Ficaria feliz se fizesse o que deseja?
- Oh, sim! Valentine subiu para um banco e passou, não o dedo mendinho pela abertura, mas sim a mão toda por cima do tapume.
Maximilien soltou um grito e, subindo por seu turno para o marco, pegou naquela mão adorada e aplicou-lhe os lábios ardentes. Mas a mãozinha fugiu-lhe imediatamente por entre as suas e o rapaz ouviu correr Valentine, talvez assustada com a sensação que acabava de experimentar.