O Conde de Monte Cristo - Cap. 57: O campo de Luzerna Pág. 564 / 1080

Meu pai, que nunca sai, esteve quase por dez vezes a recusar esse convite à Sr.ª de Villefort, a qual, pelo contrário. está ansiosa por ver a casa desse nababo extraordinário e dificilmente conseguiu que ele a acompanhasse. Não, não, acredite que não tenho, exceptuando o senhor, Maximilien, outro auxílio a esperar neste mundo a não ser o do meu avô, um cadáver, nem outro apoio a procurar que não seja na minha pobre mãe, um fantasma!

- Sinto que tem razão, Valentine, e que a lógica está do seu lado - respondeu Maximilien. - Mas a sua meiga voz, que tanto poder tem sempre sobre mim, hoje não me convence.

- Nem a sua - redarguiu Valentine. - E confesso que se não tem outro exemplo para me dar...

- Tenho mais um - respondeu Maximilien, hesitante. - Mas na verdade, Valentine, sou forçado a confessar eu próprio que é ainda mais absurdo do que o primeiro.

- Paciência! - exclamou Valentine, sorrindo.

- E no entanto - continuou Morrel - ele nem por isso é menos concludente para mim, homem todo de inspiração e sentimento, e que tenho algumas vezes, desde que há dez anos sou militar, devido a vida a um desses impulsos íntimos que nos ditam um movimento de avanço ou recuo para que a bala que nos devia matar passe a nosso lado.

- Querido Maximilien, porque não atribuir às minhas preces esse desvio das balas? Quando está ausente, não é por mim nem por minha mãe que peço a Deus, é por si.

- Sim, desde que a conheço - respondeu Morrel, sorrindo. – Mas antes de a conhecer, Valentine?

- Bom, já que me não quer dever nada, mauzão, vejamos esse exemplo que o senhor mesmo confessa ser absurdo...

- Pois sim. Espreite pelas tábuas e veja ali adiante, naquela árvore, o cavalo novo em que vim.

- Oh, que lindo animal! - exclamou Valentine. - Porque não o trouxe para junto do portão? Falar-lhe-ia e ele ouvir-me-ia.

- É efectivamente, como vê, um animal bastante valioso – disse Maximilien. - Ora, como sabe, Valentine, a minha fortuna é pequena e eu sou o que se chama um homem sensato. Pois bem, vi num alquilador aquele magnífico Médéah, como lhe chamo, e perguntei quanto custava. Responderam-me que custava quatro mil e quinhentos francos. Como compreende, tive de me abster de o achar bonito durante mais tempo e saí, confesso, bastante impressionado, porque o cavalo me olhara meigamente, acariciara-me com a cabeça e caracolara debaixo de mim da forma mais altaneira e encantadora que se possa imaginar. Naquela mesma noite recebia alguns amigos lá em casa: o Sr. De Château-Renaud, o Sr. Debray e mais cinco ou seis patuscos que a Valentine tem a felicidade de não conhecer, mesmo de nome. Alguém propôs uma bouillotte.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069