- De facto, disseram-me - prosseguiu o conde - que os senhores repetem sinais que são os primeiros a não compreender.
- Claro, senhor, e por mim prefiro que seja assim - respondeu, rindo, o homem do telégrafo.
- Porque prefere que seja assim?
- Porque assim não tenho responsabilidades. Sou apenas uma máquina, e mais nada, e desde que funcione, é tudo, quanto me exigem.
«Demónio!», disse Monte-Cristo para consigo mesmo. «Terei por acaso deparado com um homem sem ambições? Irra, seria demasiada pouca sorte!»
- Senhor - disse o jardineiro, deitando uma olhadela ao relógio de sol -, os dez minutos estão a acabar e tenho de regressar ao meu posto. Gostaria de subir comigo?
- Acompanho-o.
Com efeito, Monte-Cristo entrou na torre, dividida em três andares. O de baixo continha algumas alfaias agrícolas, tais como enxadas, ancinhos e regadores, encostadas à muralha, e mais nada.
O segundo era a residência habitual, ou antes, nocturna, do funcionário. Continha alguns pobres utensílios domésticos, uma cama, uma mesa, duas cadeiras, uma bilha de barro e algumas ervas secas pendentes do tecto, e que o conde identificou como ervilhas-de-cheiro e feijoeiros-escarlates, cujas sementes o homenzinho conservava na sua vagem, tudo etiquetado com um cuidado que faria inveja a um técnico do Jardim Botânico.
- É preciso muito tempo para aprender telegrafia, senhor? - indagou Monte-Cristo.
- Não, a aprendizagem não é longa, o que é longo é o tempo que se passa como supranumerário.
- E quanto ganham?
- Mil francos, senhor.
- Não é muito...
- Pois não, mas temos alojamento, como vê.
Monte-Cristo olhou o quarto.
- Oxalá que não esteja agarrado a isto - murmurou.
Passaram ao terceiro andar: era a sala do telégrafo.
Monte-Cristo olhou alternadamente os dois manípulos de ferro com o auxílio dos quais o funcionário fazia trabalhar a máquina.
- Isto é muito interessante - disse -, mas com o tempo esta vida não lhe parecerá um bocado insípida?
- Sim, ao princípio têm-se torcicolos à força de olhar, mas ao cabo de um ano ou dois acostumamo-nos. Além disso, temos as nossas horas de folga e os nossos dias de descanso.
- Dias de descanso?
- Sim.
- Quais?
- Aqueles em que há nevoeiro.
- Ah, tem razão!
- São os meus dias de festa. Nesses dias desço ao jardim e planto, podo, aparo e dou cabo das lagartas que apanho. Em suma, o tempo passa.
- Há quanto tempo está aqui? - Há dez anos, mais cinco de supranumerário, quinze.
- Que idade tem?
- Cinquenta e cinco anos.
- Quanto tempo de serviço lhe falta para ter direito à reforma?
- Oh, senhor, vinte e cinco anos!