O Conde de Monte Cristo - Cap. 66: Projetos de casamento Pág. 633 / 1080

- Não caia nessa! O pai não lhos pagava. O senhor não conhece todos os milionários transalpinos; são autênticos sovinas. E por intermédio de quem lhe abriu o crédito?

- Por intermédio da Casa Fenzi, uma das melhores de Florença.

- Não quero dizer que o seu dinheiro não esteja seguro, nem por sombras; mas, mesmo assim, cinja-se aos termos da carta de crédito.

- Devo entender que no meu lugar não confiaria no Cavalcanti?

- Eu? Dar-lhe-ia dez milhões mediante a sua assinatura. A dele faz parte das fortunas de segunda ordem de que lhe falava há pouco, meu caro Sr. Danglars.

- E, no entanto, como é simples! Tomá-lo-ia apenas por um major, se não soubesse mais nada a seu respeito.

- E já seria uma grande honra para ele! Porque o senhor tem razão, o homem não tem grande figura. Quando o vi pela primeira vez, pareceu-me um velho tenente que tivesse criado bolor debaixo da sua charlateira. Mas todos os italianos são assim: lembram velhos judeus, quando não deslumbram como magos do Oriente.

- O rapaz é melhor - declarou Danglars.

- Sim, mas talvez um bocadinho tímido. No entanto, pareceu-me aceitável. Estava preocupado, sabe?

- Porquê?

- Porque o senhor viu-o em minha casa pouco depois da sua entrada na sociedade, pelo menos segundo me disseram. Viajou com um preceptor severíssimo e nunca viera a Paris.

- Todos esses italianos de alta linhagem têm o hábito de casar entre si, não é verdade? - perguntou negligentemente Danglars. - Gostam de juntar as suas fortunas.

- Habitualmente procedem assim, é verdade; mas Cavalcanti é um original que não faz nada como os outros. Ninguém me tira da ideia que mandou vir o filho para França a fim de ele arranjar cá mulher.

- Parece-lhe?

- Tenho a certeza.

- Já ouviu falar da sua fortuna?

- Não se fala doutra coisa.

- Simplesmente, uns atribuem-lhe milhões, ao passo que outros pretendem que não possui chavo.

- E qual é a sua opinião?

- Não deve confiar demasiado nela; é meramente pessoal.

- Mas enfim...

- Na minha opinião, todos esses antigos podestades, todos esses velhos condottieri, porque os Cavalcanti comandaram exércitos e governaram províncias; na minha opinião, repito, eles enterraram milhões em recantos que só os seus primogénitos conhecem e dão a conhecer aos seus primogénitos de geração em geração. E a prova é que são todos amarelos e magros como os seus florins do tempo da República, de que conservam um reflexo à força de os olhar.

- Perfeito - concordou Danglars. - E isso é tanto mais verdade quanto é certo ninguém conhecer uma polegada de terra a toda essa gente.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069