O visitante esperou na sala, a qual não tinha nada de notável e era como todas as salas das casas alugadas mobiladas.
Uma chaminé com dois vasos de Sèvres modernos, um relógio de sala com um Amor retesando o seu arco, um espelho bipartido, de cada lado do espelho uma gravura, representando uma Homero conduzido pelo seu guia, a outra, Belisário pedindo esmola, paredes forradas de papel cinzento de vários tons e um sofá de tecido vermelho estampado a preto, tal era a sala de LordeWilmore.
Iluminavam-na globos de vidro fosco, que espalhavam apenas uma luz fraca, a qual parecia preparada propositadamente para os olhos cansados do enviado do Sr. Prefeito da Polícia.
Ao cabo de dez minutos de espera, o relógio de sala deu as dez horas, e à quinta pancada a porta abriu-se e Lorde Wilmore apareceu.
Lorde Wilmore era um homem mais alto do que baixo, de suíças ralas e ruivas, tez branca e cabelo louro-grisalho. Vestia com toda a excentricidade inglesa, isto é, envergava casaca azul com botões dourados e gola alta pespontada, como se usava em 1811, colete de casimira branca e calças de nanquim três polegadas mais curtas do que deviam, mas que presilhas do mesmo tecido passadas por baixo dos pés impediam de lhe subir aos joelhos.
As suas primeiras palavras quando entrou foram:
- Como sabe, senhor, não falo francês.
- Sei, pelo menos, que não gosta de falar na nossa língua - respondeu o enviado do Sr. Prefeito da Polícia.
- Mas o senhor pode falar nela - redarguiu Lorde Wilmore -, pois se a não falo, compreendo-a.
- E eu - replicou o visitante, mudando de idioma - falo o inglês com facilidade suficiente para sustentar uma conversa nessa língua. Não se incomode, pois, senhor.
- Hao! - exclamou Lorde Wilmore, com a intonação exclusiva dos mais puros naturais da Grã- Bretanha.
O enviado do prefeito da Polícia entregou a Lorde Wilmore a sua carta de apresentação. Este leu-a com uma fleuma muito anglicana e quando terminou a leitura disse, em inglês:
- Compreendo. Compreendo perfeitamente.
Começaram então as perguntas.
Foram pouco mais ou menos as mesmas que tinham sido dirigidas ao abade Busoni. Mas como Lorde Wilmore, na sua qualidade de inimigo do conde de Monte-Cristo, não punha nas suas respostas a mesma reserva que o abade, estas foram muito mais extensas. Contou a juventude de Monte-Cristo, que, segundo ele, entrara aos dez anos ao serviço de um desses pequenos soberanos da índia que guerreiam os Ingleses.