Mesmo assim, hesitava em acordá-lo quando tive a impressão de que o rosto se lhe purpureava e as veias das têmporas lhe latejavam mais violentamente do que de costume. No entanto, como anoitecera e não notei mais nada, deixei-o dormir. De repente, soltou um grito abafado e dilacerante como o de um homem que sofre a sonhar, e, num movimento brusco, inclinou a cabeça para trás.
Chamei o criado de quarto, mandei parar o postilhão e chamei o Sr. de Saint-Méran, a quem dei a respirar o meu frasco de sais, mas tudo acabara: estava morto e foi ao lado de um cadáver que cheguei a Aix.
Villefort permanecia estupefacto, de boca aberta.
- Claro que chamou o médico?...
- Imediatamente. Mas, como já lhe disse, era demasiado tarde.
- Sem dúvida. Mas conseguiu ao menos descobrir de que doença morrera o pobre marquês?
- Meu Deus, senhor, claro que conseguiu! Ele disse-mo: parece que foi uma apoplexia fulminante.
- E que fez então a senhora?
- O Sr. de Saint-Méran sempre dissera que se morresse longe de Paris queria que o seu corpo fosse sepultado no jazigo de família. Mandei-o meter num caixão de chumbo e precedo-o de alguns dias.
- Oh, meu Deus, pobre mãe! - exclamou Villefort. - Tantas canseiras depois de semelhante golpe e na sua idade!
- Deus deu-me forças até ao fim. De resto, o querido marquês teria com certeza feito por mim o que fiz por ele. É certo que desde que me separei dele parece-me que enlouqueci. Não consigo chorar. Verdade seja que se diz que na minha idade já não há lágrimas; no entanto, parece-me que quando se sofre tanto se deveria poder chorar. Onde está Valentine, senhor? Foi por ela que viemos; quero ver Valentine.
Villefort pensou que seria horrível responder que Valentine estava num baile. Por isso, limitou-se a dizer à marquesa que a neta saíra com a madrasta, mas que ia mandar preveni-la.
- Imediatamente, senhor; imediatamente, suplico-lhe - pediu a velha senhora.
Villefort tomou o braço da Sr.ª de Saint-Méran e acompanhou-a ao seu quarto.
- Descanse, minha mãe - recomendou.
Ao ouvir esta última palavra, a marquesa levantou a cabeça, e ao ver aquele homem, que lhe recordava a filha tão chorada, mas que ressuscitava para ela em Valentine, sentiu-se comovida. Aquele nome de mãe fê-la romper em lágrimas e cair de joelhos junto de uma poltrona, onde escondeu a cabeça venerável.
Villefort recomendou-a aos cuidados das mulheres, enquanto o velho Barrois subia muito transtornado ao quarto do amo.