O Conde de Monte Cristo - Cap. 72: A Sra. de Saint-Méran Pág. 679 / 1080

- Meu Deus, está com febre! Não é um notário que se deve mandar chamar, é um médico!

- Um médico? - repetiu a doente, encolhendo os ombros. - Não me dói nada: só tenho sede.

- Que quer beber, avozinha?

- Como sempre, bem sabes, a minha laranjada. O copo está em cima da mesa. Dá-mo, Valentine.

Valentine deitou a laranjada da garrafa no copo e pegou-lhe com certo terror para o dar à avo, visto ser o mesmo copo que, segundo ela, fora tocado pela sombra.

A marquesa despejou o copo de um só golo.

Depois, virou-se na almofada e insistiu:

- O notário, o notário!...

O Sr. de Villefort saiu. Valentine sentou-se ao pé da cama da avó. A pobre criança parecia ela própria muito necessitada do médico que recomendara à avó. Um rubor idêntico a uma chama queimava-lhe as faces, tinha a respiração opressa e arquejante e o pulso batia-lhe como se tivesse febre.

É que ela pensava, a pobre criança, no desespero de Maximilien quando soubesse que a Sr.ª de Saint-Méran, em vez de ser uma aliada, procedia, sem o saber, como se fosse uma inimiga.

Por mais de uma vez Valentine pensara em dizer tudo à avó, e não teria hesitado um só instante se Maximilien Morrel se chamasse Albert de Morcerf ou Raoul de Château-Renaud. Mas Morrel era de origem plebeia e Valentine sabia o desprezo que a orgulhosa marquesa de Saint-Méran nutria por todos aqueles que não fossem da sua linhagem. O seu segredo fora portanto, em todos os momentos em que estivera prestes a ser revelado, contido no seu coração pela triste certeza de que o confiaria inutilmente e de que, uma vez esse segredo conhecido do pai e da madrasta, tudo estaria perdido.

Passaram-se assim cerca de duas horas. A Sr.ª de Saint-Méran dormia um sono febril e agitado. Anunciaram o notário.

Embora o anúncio tivesse sido feito muito baixo, a Sr.ª de Saint-Méran soergueu-se na almofada.

- O notário?... Que venha, que venha! - ordenou.

O notário estava à porta e entrou.

- Sai, Valentine, deixa-me sozinha com este senhor - disse a Sr.ª de Saint-Méran

- Mas, avó...

- Vai, vai

A jovem inclinou a cabeça diante da avó e saiu com o lenço nos olhos. Encontrou à porta um criado que lhe disse que o médico esperava na sala.

Valentine desceu rapidamente. o médico era um amigo da família e ao mesmo tempo um dos homens mais competentes da época.

Gostava muito de Valentine, que vira nascer. Tinha uma filha pouco mais ou menos da idade de Mademoiselle de Villefort, mas nascida de mãe tuberculosa. O médico vivia pois num temor permanente em relação à filha.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069