»E como prova assinamos a presente, para estabelecer a verdade dos factos, com receio de que algum dia qualquer dos intervenientes nesta cena terrível possa ser acusado de assassínio com premeditação ou de infracção às leis da honra.
assinado: BEAUREGARD, DUCHAMPY e LECHARPAL.”
Quando Franz terminou a leitura, tão terrível para um filho, Valentine, pálida de emoção, enxugou uma lágrima e Villefort, trémulo e encolhido a um canto, procurou conjurar a tempestade por meio de olhares suplicantes dirigidos ao velho implacável. Entretanto, Epinay dirigiu-se nestes termos a Noirtier.
- Senhor, uma vez que conhece esta terrível história em todos os seus pormenores, visto a ter feito atestar por testemunhas fidedignas, e porque, finalmente, parece interessar-se por mim, embora o seu interesse só se tenha até agora revelado através da dor, não me recuse uma última satisfação, diga-me o nome do presidente do clube, para que eu conheça enfim aquele que matou o meu pobre pai.
Villefort procurou, como que alucinado, o puxador da porta.
Valentine, que adivinhara antes de qualquer outra pessoa a resposta do velho e que muitas vezes notara no antebraço do avô as cicatrizes de duas espadeiradas, recuou um passo.
- Em nome do Céu, menina - pediu Franz, dirigindo-se à noiva -, junte-se a mim, para que eu saiba o nome do homem que me fez órfão aos dois anos! Valentine ficou imóvel e muda.
- Ouça, senhor - interveio Villefort -, acredite no que lhe digo e não prolongue mais esta cena horrível. Aliás, os nomes foram ocultados de propósito. Nem mesmo o meu pai sabe quem era esse presidente, e ainda que o soubesse não o poderia revelar: os nomes próprios não se encontram no dicionário.
- Que pouca sorte a minha! - exclamou Franz. - A única esperança que me amparou durante toda a leitura e me deu forças para ir até ao fim era saber ao menos o nome daquele que matou o meu pai! Senhor, senhor - suplicou, virando-se para Noirtier -, em nome do Céu, faça o que lhe seja possível... veja se consegue, suplico-lhe, indicar-me, dar-me a entender...
- Sim - respondeu Noirtier.
- Menina, menina! - exclamou Franz. - O seu avô fez sinal de que podia indicar... esse homem... Ajude-me... compreende-o... dê-me a sua ajuda! Noirtier olhou o dicionário.
Franz pegou-lhe a tremer nervosamente e pronunciou sucessivamente as letras do alfabeto até ao E.
Ao ouvir esta letra, o velho fez sinal que sim.
- E! - repetiu Franz.
O dedo do jovem percorreu as palavras; mas a todas Noirtier respondia com um sinal negativo.
Valentine ocultava a cara entre as mãos.
Por fim, Franz chegou à palavra EU.
- Sim - indicou o velho.
- O senhor?! - exclamou Franz, cujos cabelos se puseram em pé. - O Sr. Noirtier?... Foi o senhor que matou o meu pai?