O Conde de Monte Cristo - Cap. 75: A ata da sessão Pág. 721 / 1080

»E como prova assinamos a presente, para estabelecer a verdade dos factos, com receio de que algum dia qualquer dos intervenientes nesta cena terrível possa ser acusado de assassínio com premeditação ou de infracção às leis da honra.

assinado: BEAUREGARD, DUCHAMPY e LECHARPAL.”

Quando Franz terminou a leitura, tão terrível para um filho, Valentine, pálida de emoção, enxugou uma lágrima e Villefort, trémulo e encolhido a um canto, procurou conjurar a tempestade por meio de olhares suplicantes dirigidos ao velho implacável. Entretanto, Epinay dirigiu-se nestes termos a Noirtier.

- Senhor, uma vez que conhece esta terrível história em todos os seus pormenores, visto a ter feito atestar por testemunhas fidedignas, e porque, finalmente, parece interessar-se por mim, embora o seu interesse só se tenha até agora revelado através da dor, não me recuse uma última satisfação, diga-me o nome do presidente do clube, para que eu conheça enfim aquele que matou o meu pobre pai.

Villefort procurou, como que alucinado, o puxador da porta.

Valentine, que adivinhara antes de qualquer outra pessoa a resposta do velho e que muitas vezes notara no antebraço do avô as cicatrizes de duas espadeiradas, recuou um passo.

- Em nome do Céu, menina - pediu Franz, dirigindo-se à noiva -, junte-se a mim, para que eu saiba o nome do homem que me fez órfão aos dois anos! Valentine ficou imóvel e muda.

- Ouça, senhor - interveio Villefort -, acredite no que lhe digo e não prolongue mais esta cena horrível. Aliás, os nomes foram ocultados de propósito. Nem mesmo o meu pai sabe quem era esse presidente, e ainda que o soubesse não o poderia revelar: os nomes próprios não se encontram no dicionário.

- Que pouca sorte a minha! - exclamou Franz. - A única esperança que me amparou durante toda a leitura e me deu forças para ir até ao fim era saber ao menos o nome daquele que matou o meu pai! Senhor, senhor - suplicou, virando-se para Noirtier -, em nome do Céu, faça o que lhe seja possível... veja se consegue, suplico-lhe, indicar-me, dar-me a entender...

- Sim - respondeu Noirtier.

- Menina, menina! - exclamou Franz. - O seu avô fez sinal de que podia indicar... esse homem... Ajude-me... compreende-o... dê-me a sua ajuda! Noirtier olhou o dicionário.

Franz pegou-lhe a tremer nervosamente e pronunciou sucessivamente as letras do alfabeto até ao E.

Ao ouvir esta letra, o velho fez sinal que sim.

- E! - repetiu Franz.

O dedo do jovem percorreu as palavras; mas a todas Noirtier respondia com um sinal negativo.

Valentine ocultava a cara entre as mãos.

Por fim, Franz chegou à palavra EU.

- Sim - indicou o velho.

- O senhor?! - exclamou Franz, cujos cabelos se puseram em pé. - O Sr. Noirtier?... Foi o senhor que matou o meu pai?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069