O Conde de Monte Cristo - Cap. 75: A ata da sessão Pág. 720 / 1080

»O general propôs que se tirasse à sorte as duas espadas, mas o presidente respondeu que fora ele quem o desafiara e que ao desafiá-lo pretendera que cada um se servisse das suas armas.

»As testemunhas tentaram insistir; o presidente impôs-lhes silêncio.

»Pousaram a lanterna no chão; os dois adversários observaram-se de ambos os lados; o combate começou.

»A luz transformava as duas espadas em relâmpagos. Quanto aos homens, mal se viam, de tal forma a escuridão era densa.

“O general passava por ser uma das melhores lâminas do Exército. Mas atacou tão vivamente logo aos primeiros botes que escorregou, e escorregando caiu.

»As testemunhas julgaram-no morto; mas o seu adversário, que sabia não lhe ter tocado, estendeu-lhe a mão para o ajudar a levantar-se. Esta circunstância, em vez de o acalmar, irritou o general, que se precipitou sobre o adversário.

»Mas este não recuou um passo e recebeu-o na ponta da espada. Três vezes o general recuou, depois de se empenhar demasiado afundo, e três vezes voltou à carga.

»À terceira vez voltou a cair.

»Julgaram que tivesse escorregado, como da primeira vez. No entanto, ao verem que se não levantava, as testemunhas aproximaram-se e tentaram pô-lo de pé. Mas aquela que o segurava pela cintura sentiu na mão um calor húmido. Era sangue.

»O general, que se encontrava quase desmaiado, recuperou os sentidos.

»- Ah, mandaram-me algum espadachim, algum mestre-de-armas de regimento! - exclamou.

»Sem responder, o presidente aproximou-se da testemunha que segurava na lanterna, arregaçou a manga e mostrou o braço perfurado em dois pontos pela espada do seu adversário. Em seguida, abriu a sobrecasaca, desabotoou o colete e mostrou o quadril dilacerado por terceiro ferimento.

»Contudo, nem sequer soltara um suspiro.

»O general de Epinay entrou em agonia e expirou passados cinco minutos...”

Franz leu as últimas palavras com voz tão estrangulada que mal se puderam ouvir. Depois de as ler, deteve-se e passou a mão pelos olhos, como que para afastar uma nuvem.

Mas, após um instante de silêncio, continuou:

-«O presidente voltou a subir a escada depois de meter a espada na bengala. Um rego de sangue assinalava a sua passagem na neve.

»Ainda não chegara ao cimo da escada quando ouviu um barulho abafado na água; era o corpo do general, que as testemunhas acabavam de lançar ao rio depois de verificarem a morte.

«O general sucumbiu portanto num duelo leal e não numa emboscada, como se poderia dizer.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069