- Palavra, meu caro visconde, que está votado à música esta noite; só escapou ao piano de Mademoiselle Danglars para cair na gusla de Haydée.
- Haydée! Que nome adorável! Há portanto mulheres que se chamam realmente Haydée sem ser nos poemas de Lorde Byron?
- Com certeza. Haydée é um nome muito raro em França, mas bastante comum na Albânia e no Epiro. É como se dissesse, por exemplo, castidade, pudor, inocência. Trata-se de uma espécie de nome de baptismo, como dizem os seus Parisienses.
- Oh, como é encantador! - exclamou Albert, como se esperasse ver as nossas francesas chamarem-se Mademoiselle Bondade, Mademoiselle Silêncio, Mademoiselle Caridade Cristã! – Imagine se Mademoiselle Danglars, em vez de se chamar Claire- Marie-Eugénie, como se chama, se chamasse Mademoiselle Castidade Pudor Inocência Danglars - apre! -, o efeito que isso não faria numa publicação de banhos!
- Louco! - redarguiu o conde. - Não graceje tão alto que Haydée poderá ouvi-lo.
- E zangar-se-ia?
- Não - respondeu o conde, com o seu ar altivo.
- É boa pessoa? - perguntou Albert.
- Não se trata de bondade, mas sim de dever: uma escrava não se zanga com o seu senhor.
- Vamos, não graceje o senhor agora! Porventura ainda há escravos?
- Sem dúvida, uma vez que Haydée é a minha.
- Com efeito, o senhor não faz nada nem é em nada como os outros. Escrava do Sr. Conde de Monte-Cristo! É uma posição em França. Da forma como o senhor espalha o dinheiro, é um lugar que deve valer cem mil escudos por ano.
- Cem mil escudos! A pobre criança já possuiu mais do que isso. Veio de um mundo em que os tesouros são tantos que ao pé deles os das Mil e Uma Noites são bem pouca coisa.
- É portanto realmente uma princesa?
- Sem dúvida nenhuma, e até uma das maiores do seu país.
- Já tinha imaginado. Mas como se tornou uma grande princesa escrava?
- Como se tornou Dinis, o Tirano, professor primário? Acasos da guerra, meu caro visconde, caprichos da sorte.
- E o seu nome é segredo?
- É, para toda a gente. Mas para o senhor, caro visconde, que é um dos meus amigos e que se calará... Não é verdade que me promete calar-se?
- Oh, palavra de honra!
- Conhece a história do paxá de Janina?
- De Ali-Tebelin? Sem dúvida, pois foi ao seu serviço que o meu pai fez fortuna.
- É verdade, tinha-me esquecido.
- Bom, que era Haydée a Ali-tebelin?
- Sua filha, muito simplesmente.
- Como, filha de Ali- Paxá?!
- E da bela Vasiliki.