Ele, que tanto gostava de, com o amo, percorrer a cavalo ou de carruagem os quatro cantos da Europa, matou-se naquele serviço monótono à volta de uma cadeira de rodas. O sangue engrossou-lhe. Estava repleto, tinha o pescoço grosso e curto, foi atingido por uma apoplexia fulminante e chamaram-me demasiado tarde. A propósito - acrescentou baixinho -, não se esqueça de deitar a taça de violetas nas cinzas...
E o médico, sem tocar na mão de Villefort e sem voltar atrás um só instante no que dissera, saiu escoltado pelas lágrimas e pelos lamentos de todo o pessoal da casa.
Naquela mesma tarde, todos os criados de Villefort, que se tinham reunido na cozinha e haviam conversado demoradamente entre si, vieram pedir à Sr.ª de Villefort licença para se irem embora. Nenhuma insistência, nenhuma proposta de aumento de salários conseguiu retê-los. A todas as palavras respondiam: «Queremos ir-nos embora porque a morte está nesta casa.»
Partiram, portanto, apesar de todos os pedidos que lhes fizeram, declarando que tinham muita pena de deixar tão bons patrões e sobretudo Mademoiselle Valentine, tão boa, tão generosa e tão meiga.
Ao ouvir estas palavras, Villefort olhou para Valentine.
Ela chorava.
Coisa estranha! Através da emoção que lhe fizeram experimentar aquelas lágrimas, olhou também para a Sr.ª de Villefort e pareceu-lhe que um sorriso fugaz e sombrio lhe passara pelos lábios delgados, como esses meteoros que vemos deslizar, sinistros, entre duas nuvens, no fundo de um céu tempestuoso.