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Capítulo 11: O papão da Córsega

Página 79

- E o Delfinado, senhor? - perguntou o rei a Villefort. - Acha que se poderá sublevar como a Provença? - Sire, custa-me dizer a Vossa Majestade uma verdade cruel, mas o espírito do Delfinado está longe de valer o da Provença e a do Linguadoque. Os montanheses são bonapartistas, Sire.

- Claro - murmurou Luís XVIII -, informou-se bem... E quantos homens traz consigo? - Não sei, Sire - respondeu o ministro da Polícia.

- Como? Não sabe?! Esqueceu-se de se informar desse pormenor? Verdade seja que é de pouca importância - acrescentou com um sorriso demolidor.

- Sire, não me pude informar a esse respeito. O despacho anunciava simplesmente o desembarque e a estrada tomada pelo usurpador.

- E como chegou às suas mãos esse despacho? - perguntou o rei.

O ministro baixou a cabeça e um vivo rubor invadiu-lhe a testa.

- Pelo telégrafo, Sire - balbuciou.

Luís XVIII deu um passo em frente e cruzou os braços como teria feito Napoleão.

- Assim - disse empalidecendo de cólera -, sete exércitos coligados derrubaram esse homem; um milagre do Céu recolocou-me no trono dos meus avós depois de vinte anos de exílio; durante esses vinte e cinco anos estudei, sondei, analisei os homens e as coisas desta França que me estava prometida. Para quê? Para no fim de tudo isto uma força que tinha na mão rebentar e destruir-me!

- Sire, é a fatalidade - murmurou o ministro, sentindo que semelhante peso, leve para o destino, bastava para esmagar um homem.

- Mas então é verdade o que diziam de nós os nossos inimigos: «Não aprenderam nem esqueceram nada?» Se tivesse sido atraiçoado por pessoas elevadas por mim às dignidades, que deveriam velar por mim mais cuidadosamente do que por si mesmas, porque aminha fortuna era a sua, antes de mim não eram nada e depois de mim nada seriam, mas cair miseravelmente por incapacidade, por inépcia! Ah, sim, senhor, tem razão, é uma fatalidade.

O ministro mantinha-se curvado debaixo deste espantoso anátema.

O Sr. de Blacas enxugava a testa coberta de suor. Villefort sorria intimamente porque sentia crescer a sua importância.

- Cair - continuava Luís XVIII, que ao primeiro relance de olhos sondava o princípio para onde se inclinava a monarquia -, cair e saber da queda pelo telégrafo! Oh, preferiria subir o cadafalso do meu irmão Luís XVI a descer assim a escadaria das Tulherias, corrido pelo ridículo!... O ridículo, que o senhor não sabe o que é em França, embora o devesse saber.

- Sire, Sire - murmurou o ministro -, por piedade!...

- Aproxime-se, Sr. de Villefort - continuou o rei, dirigindo-se ao jovem que de pé, imóvel e atrás observava o andamento daquele diálogo onde pairava, perdido, o destino de um reino -, e diga a este senhor que se podia saber com antecedência tudo o que ele não soube.

- Sire, era materialmente impossível adivinhar projetos que esse homem ocultava a toda a gente.

- Materialmente impossível! Ora ai está uma grande frase, senhor.

Infelizmente, há grandes frases assim como há grandes homens; já medi umas e outros. Materialmente impossível a um ministro, que tem uma administração, repartições, agentes, informadores, espiões e um milhão e quinhentos mil francos de fundos secretos saber o que se passa a sessenta léguas das costas da França! Pois bem, veja, senhor, aqui tem quem não tinha nenhum desses recursos à sua disposição; aqui tem, senhor, um simples magistrado que a tal respeito sabia mais do que o senhor com toda a sua polícia e que me teria salvado a coroa se tivesse tido como o senhor o direito de dirigir um telégrafo.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 79

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069