Resultado: o Sr. Procurador Régio tomou o caso tanto a peito que, ao que parece, despertou no mais alto grau o interesse do prefeito da Polícia, e graças a esse interesse, pelo qual não posso estar mais reconhecido, há quinze dias que me mandam cá todos os bandidos que existem em Paris e nos arredores, a pretexto de serem os assassinos do Sr. Caderousse. Assim, se isto continua, dentro de três meses não haverá um ladrão nem um assassino, neste belo reino de França, que não conheça a planta da minha casa na ponta da unha. Estou pois resolvido a abandonar-lha por completo e ir para tão longe quanto a Terra mo permita. Venha comigo, visconde, quer?
- Com muito prazer.
- Então, está combinado?
- Está. Mas para onde vai?
- Já lhe disse: para onde o ar é puro, o ruído entorpece e, por mais orgulhoso que se seja, um homem se sente humilde e insignificante. Aprecio essa humildade, eu, que dizem senhor do universo, como Augusto.
- Mas para onde vai, finalmente?
- Para o mar, visconde, para o mar. Sou um marinheiro, fique sabendo. Logo em criança fui embalado nos braços do velho Oceano e no colo da bela Anfitrite. Brinquei com o manto verde de um e a túnica cerúlea da outra. Gosto do mar como se gosta de uma amante, e quando estou muito tempo sem o ver sinto a sua falta.
- Então vamos, conde, vamos!
- Para o mar?
- Sim.
- Aceita?
- Aceito.
- Nesse caso, visconde, haverá esta tarde um brisca de viagem em que uma pessoa se pode deitar como na sua cama. Esse brisca estará atrelado a quatro cavalos de posta. Sr. Beauchamp, cabem lá quatro facilmente. Quer vir connosco? Eu levo-o!
- Obrigado, mas venho do mar.
- Como, o senhor vem do mar?!
- Sim, ou pouco mais ou menos. Acabo de fazer uma viagenzinha às ilhas Borromeias.
- Que tem isso? Venha sempre - insistiu também Albert.
- Não, meu caro Morcerf. Deve compreender que desde o momento que recuso é porque é impossível. Aliás, é importante - acrescentou, baixando a voz - que eu fique em Paris, quanto mais não seja para vigiar a caixa do jornal.
- Você é um bom e excelente amigo - disse Albert. - Sim, tem razão, observe, vigie, Beauchamp, e procure descobrir o inimigo a quem se deve essa revelação.
Albert e Beauchamp separaram-se. O seu último aperto de mão encerrava todos os sentimentos que os seus lábios não podiam exprimir diante de um estranho.
- Excelente rapaz, esse Beauchamp! - exclamou Monte-Cristo, depois de o jornalista sair. - Não é verdade, Albert?
- Oh, sim, um homem de coração, garanto-lhe! Por isso o estimo com toda a minha alma. Mas agora que estamos sós, embora isso me seja quase indiferente aonde vamos?