O Conde de Monte Cristo - Cap. 88: O insulto Pág. 843 / 1080

A campainha chamou-o ao seu lugar e ele foi sentar-se nas cadeiras de orquestra, entre Château-Renaud e Beauchamp.

Mas os seus olhos não largavam o camarote entre colunas, que durante o primeiro acto pareceu obstinar-se em permanecer fechado.

- Por fim, quando Albert consultava pela centésima vez o relógio, no início do segundo acto, a porta do camarote abriu-se e Monte-Cristo, vestido de preto, entrou e encostou-se à balaustrada para olhar a sala. Morrel, que o acompanhava, pôs-se também a procurar com os olhos a irmã e o cunhado. Descobriu-os num camarote de segunda ordem e fez-lhes sinal.

Ao dar uma vista de olhos circular pela sala, o conde descobriu uma cara pálida e olhos cintilantes que pareciam querer atrair avidamente os seus. Reconheceu Albert, mas a expressão que notou naquele rosto transtornado aconselhou-o sem dúvida a fazer de conta que o não vira. Sem esboçar portanto nenhum gesto que revelasse o seu pensamento, sentou-se, tirou o binóculo do estojo e apontou-o para outro lado.

Mas, sem parecer ver Albert, o conde não o perdia de vista, e quando o pano desceu, no fim do segundo acto, o seu golpe de vista infalível e seguro seguiu o jovem, que saia da plateia acompanhado dos seus dois amigos.

Depois, a mesma cara reapareceu num camarote de primeira ordem, defronte do seu. O conde sentia aproximar-se a tempestade, e quando ouviu a chave girar na fechadura do seu camarote, embora falasse nesse momento com Morrel com o seu rosto mais risonho, o conde sabia a que se a ter e estava preparado para tudo.

A porta abriu-se.

Só então Monte-Cristo se virou e viu Albert, lívido e trémulo, e atrás dele Beauchamp e Château-Renaud.

- Ora vejam, o meu cavaleiro sempre conseguiu cá chegar! - exclamou com a benevolente delicadeza que distinguia habitualmente a sua saudação das vulgares cortesias da sociedade. - Boas noites, Sr. de Morcerf.

E o rosto daquele homem, tão singularmente senhor de si mesmo, exprimia a mais perfeita cordialidade.

Morrel lembrou-se da carta que recebera do visconde e na qual, sem outra explicação, este lhe pedia que fosse à ópera, e adivinhou que ia acontecer algo terrível.

- Não vimos aqui para trocar cumprimentos hipócritas ou manter aparências enganosas de amizade - redarguiu o jovem. - Vimos pedir-lhe uma explicação, Sr. Conde.

A voz trémula do jovem passava-lhe a custo por entre os dentes cerrados.

- Uma explicação na ópera? - observou o conde, no tom tão calmo e num relance de olhos tão penetrante, só característicos do homem eternamente senhor de si mesmo. - Apesar de pouco familiarizado com os hábitos parisienses, nunca imaginei, senhor, que fosse aqui que as explicações se pedissem.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069