- Desculpas no campo da honra!... - exclamou o jovem capitão, abanando a cabeça.
- Então, espero que não vá cair nos preconceitos dos homens vulgares, Morrel... - observou o conde com suavidade. - Não chegou à conclusão de que, uma vez que Albert é corajoso, não pode ser cobarde? Que devia ter algum motivo para proceder como procedeu esta manhã e que portanto a sua conduta foi mais heróica do que outra coisa?
- Sem dúvida, sem dúvida - respondeu Morrel. - Mas é caso para dizer como o espanhol: - foi menos corajoso hoje do que ontem.
- Toma o pequeno-almoço comigo, não é verdade, Morrel? - perguntou Monte-Cristo para mudar de assunto.
- Não, deixo-o às dez horas.
- O seu encontro é então para tomar o pequeno-almoço?...
Morrel sorriu e abanou a cabeça.
- Mas, enfim, com certeza tem de tomar o pequeno-almoço em algum lado...
- E se eu não tiver fome? - observou o rapaz.
- Oh, só conheço dois sentimentos que cortam assim o apetite: a dor (e como, felizmente, o vejo contentíssimo, não se trata disso) e o amor! Ora, depois do que me disse a propósito do seu coração, é-me permitido supor...
- Palavra, conde, que não o desminto! - replicou alegremente Morrel.
- E não me dizia nada, Maximilien? - notou o conde, num tom tão vivo que deixava transparecer o interesse que tinha em conhecer o segredo.
- Mostrei-lhe esta manhã que tinha um coração, não é verdade, conde? Como única resposta, Monte-Cristo estendeu a mão ao jovem.
- Pois bem - continuou este -, desde que esse coração já não está com o senhor no Bosque de Vincennes, será noutro lado que terei de o procurar...
- Vá - disse lentamente o conde -, vá, querido amigo, mas, por favor, se esbarrar com algum obstáculo, lembre-se de que tenho algum poder neste mundo, que tenho prazer em empregar esse poder em proveito das pessoas que estimo... e que o estimo, Morrel.
-Lembrar-me-ei disso como os filhos egoístas se lembram dos pais quando precisam deles - declarou Morrel. – Quando precisar do senhor, e talvez esse momento surja, recorrerei a si, conde.
- Fico com a sua palavra. Adeus.
- Até breve.
Tinham chegado à porta da casa dos Campos Elísios. Monte-Cristo abriu a portinhola e Morrel saltou para a calçada.
Bertuccio, esperava na escadaria.
Morrel meteu pela Avenida de Marigny e Monte-Cristo dirigiu-se vivamente ao encontro de Bertuccio.
- Então? - perguntou.
- Ela vai deixar a casa - respondeu o intendente.
- E o filho?
- Florentin, seu criado de quarto, pensa que vai fazer o mesmo.
- Venha.