O Conde de Monte Cristo - Cap. 99: A lei Pág. 929 / 1080

No momento em que a Sr.ª Danglars, de vestido preto e de véu, subia a escada que conduzia ao apartamento de Debray, apesar da certeza que lhe dera o porteiro de que o jovem se não encontrava em casa, Debray procurava repelir as insinuações de um amigo que tentava provar-lhe que depois do escândalo terrível que acabava de se verificar era seu dever de amigo da casa casar com Mademoiselle Eugénie Danglars e os seus dois milhões.

Debray defendia-se como um homem que não deseja outra coisa senão ser vencido; porque tal ideia lhe acudira por si mesma com frequência ao espírito. Depois, como conhecia Eugénie e o seu temperamento independente e altivo, retomava de vez em quando uma atitude completamente defensiva, dizendo que tal união era impossível, embora intimamente se deixasse lisonjear pela sua eventualidade e cedesse a um mau pensamento, que, no dizer de todos os moralistas, preocupa incessantemente o homem mais probo e puro e vela no fundo da sua alma como Satanás vela atrás da cruz. O chá, o jogo e a conversa, interessante como se vê, uma vez que se discutiam tão graves interesses, duraram até à uma hora da manhã.

Entretanto, a Sr.ª Danglars, recebida pelo criado de quarto de Lucien, esperava, velada e palpitante, na salinha verde, entre dois açafates de flores que ela própria mandara de manhã e que Debray, deve-se dizê-lo, dispusera, arranjara e cortara pessoalmente com um cuidado que fez perdoar a sua ausência à pobre mulher.

Às onze horas e quarenta minutos a Sr.ª Danglars, farta de esperar inutilmente, voltou a meter-se num fiacre e regressou a casa.

As mulheres de certa classe têm isso em comum com as costureirinhas galantes: não recolhem habitualmente depois da meia-noite. A baronesa entrou no palácio com tanta precaução como Eugénie tomara para sair e subiu ligeiramente, com o coração apertado, a escada que levava aos seus aposentos, contíguos, como se sabe, aos de Eugénie.

Temia tanto provocar qualquer comentário e acreditava tão firmemente - pobre mulher respeitável, pelo menos nesse ponto - na inocência da filha e na sua fidelidade ao lar paterno!...

Chegada aos seus aposentos, escutou à porta de Eugénie e depois, não ouvindo nenhum ruído, tentou entrar; mas os fechos estavam corridos.

A Sr.ª Danglars julgou que Eugénie, cansada das terríveis emoções da noite, se metera na cama e dormia.

No entanto, chamou a criada de quarto e interrogou-a.

- Mademoiselle Eugénie - respondeu a criada - regressou aos seus aposentos com Mademoiselle de Armilly, tomaram chá juntase depois mandaram-me embora dizendo que não precisavam mais de mim.

Desde então a criada de quarto estivera na copa e, como toda agente, julgava as duas raparigas nos aposentos de Eugénie.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069