Esperou um instante no vestíbulo, depois de chamar um criado qualquer que o introduzisse junto do velho Noirtier.
Mas ninguém respondeu; como sabemos, os criados tinham abandonado a casa.
Morrel não tinha naquele dia nenhum motivo especial para se sentir inquieto. Possuía a promessa de Monte-Cristo de que Valentine viveria e até ali essa promessa fora fielmente cumprida. Todas as noites o conde lhe dera boas notícias, que o próprio Noirtier confirmava no dia seguinte.
No entanto, aquele abandono pareceu-lhe singular. Chamou segunda vez, terceira, mas o silêncio persistiu.
Então decidiu subir.
A porta de Noirtier estava aberta, tal como as outras portas.
A primeira coisa que viu foi o velho na sua poltrona, no sítio habitual. os seus olhos dilatados pareciam exprimir um terror íntimo, confirmado ainda pela palidez estranha que lhe cobria o rosto.
- Como está, senhor? - perguntou o rapaz, não sem um certo aperto no coração.
- Bem! - respondeu o velho com o seu piscar de olhos. - Bem! ...
Mas a inquietação pareceu aumentar na sua fisionomia.
- Está preocupado - continuou Morrel. - Precisa de qualquer coisa. Quer que chame um criado?
- Sim - respondeu Noirtier.
Morrel puxou o cordão da campainha; mas mesmo que o puxasse até se partir, ninguém viria, nem veio.
Virou-se para Noirtier, a palidez e a angústia iam crescendo no rosto do velho.
- Meu Deus! Meu Deus! - exclamou Morrel. - Porque será que ninguém aparece? Haverá alguém doente cá em casa? Os olhos de Noirtier pareceram prestes a saltar-lhe das órbitas.
- Mas que tem o senhor? - continuou Morrel. - Assusta-me... Valentine? Valentine?...
- Sim! Sim! - acenou Noirtier.
Maximilien abriu a boca para falar, mas a sua língua não conseguiu articular nenhum som. Cambaleou e agarrou-se à parede.
Depois estendeu a mão para a porta.
- Sim, sim, sim! - continuou o velho.
Maximilien correu para a escadinha, que subiu em dois saltos, enquanto Noirtier parecia gritar-lhe com a vista: «Mais depressa! Mais depressa!»
Um minuto bastou ao rapaz para atravessar várias salas, solitárias como o resto da casa, e chegar ao quarto de Valentine.
Não necessitou de empurrar a porta, pois estava escancarada.
Um soluço foi o primeiro ruído que ouviu. Viu como que através de uma nuvem uma figura negra ajoelhada e com a cara mergulhada num monte confuso de lençóis brancos. O medo, um medo horrível, pregava-o ao chão.
Foi então que ouviu uma voz dizer que Valentine estava morta e segunda voz responder como um eco.
- Morta! Morta!