O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 990 / 1080

- Eu? Não viu que me reservo oitenta francos? Um rapaz, minha mãe, não necessita de muitas comodidades. De resto, sei o que é viajar.

- Com a tua sege de posta e o teu criado de quarto.

- De todas as maneiras, minha mãe.

- Pois bem, seja - concordou Mercédès. - Mas onde estão esses duzentos francos?

- Esses duzentos francos estão aqui, e ainda mais duzentos...

Olhe vendi o meu relógio por cem francos e os berloques por trezentos. Que sorte! Berloques que valiam três vezes o relógio. Sempre a eterna história do supérfluo! Estamos portanto ricos, pois em vez de cento e catorze francos para a sua viagem terá duzentos e cinquenta.

- Mas não devemos qualquer coisa aqui?

- Trinta francos, mas pago-os dos meus cento e cinquenta francos. Isso está resolvido. Aliás, bem vistas as coisas, não preciso de mais do que oitenta francos para a viagem. Como vê, estou a nadar em dinheiro. Mas isto não é tudo. Que me diz a isto, minha mãe? E Albert tirou de uma agendazinha de fecho de ouro, resto das suas antigas fantasias ou talvez mesmo terna recordação de alguma das mulheres misteriosas e veladas que batiam à portinha, uma nota de mil francos.

- Que é isso? - perguntou Mercédès.

- Mil francos, minha mãe. Oh, esteja descansada que são perfeitamente honestos!

- Mas onde os arranjaste?

- Escute, mãe, e não se impressione demasiado.

E Albert levantou-se, beijou a mãe em ambas as faces e ficou parado a olhá-la.

- Não imagina, mãe, como a acho bonita! - declarou o rapaz com profundo sentimento de amor filial. - Na verdade, é não só a mais bonita, mas também a mais nobre mulher que jamais vi!

- Querido filho - murmurou Mercédès, procurando em vão reter uma lágrima que lhe brilhava ao canto da pálpebra.

- Realmente, só lhe faltava ser infeliz para transformar o meu amor em adoração.

- Não serei infeliz enquanto tiver o meu filho - declarou Mercédès.

- Muito bem! - disse Albert. - Mas aí é que começa a questão. Sabe o que está combinado?

- Combinámos alguma coisa? - perguntou Mercédès.

- Combinámos. Combinámos que a senhora ficaria a morar em Marselha e que eu partiria para África, onde, em vez do nome a que renunciei, honraria o nome que adoptei.

Mercédès suspirou.

- Pois bem, minha mãe: desde ontem que estou alistado nos sipaios - acrescentou o rapaz, baixando os olhos com certa vergonha, pois nem ele próprio sabia tudo o que o seu rebaixamento tinha de sublime. - Ou antes, julguei que o meu corpo me pertencia inteiramente e que o podia vender. Desde ontem que substituo alguém. Vendi-me, como dizem, e - acrescentou tentando sorrir - mais caro do que estava convencido que valia, ou seja por dois mil francos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069