O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 989 / 1080

Do pouco que tinha, Mercédès fazia o seu quinhão tão generosamente quanto possível; agora, tinha de fazer dois quinhões... a partir do nada.

O Inverno aproximava-se. Naquele quarto nu e já frio, Mercédès não tinha aquecimento, ela a quem outrora um calorífero com inúmeras ramificações aquecia a casa desde as antecâmaras até ao boudoir. Não tinha nem uma pobre florinha, ela cujos aposentos eram uma estufa quente mantida a peso de ouro!

Mas tinha o seu filho...

A exaltação de um dever talvez exagerado sustentara-os até ali nas esferas superiores.

A exaltação é quase entusiasmo, e o entusiasmo torna as pessoas insensíveis às coisas terrenas.

Mas o entusiasmo esfriara e fora necessário descer pouco apouco do país dos sonhos ao mundo das realidades.

Era necessário falar do positivo, depois de ter esgotado todo o ideal.

- Minha mãe - dizia Albert, no preciso momento em que a Sr.ª Danglars descia a escada -, deitemos contas a todas as nossas riquezas, por favor. Preciso de um total para traçar os meus planos.

- Total, nada - respondeu Mercédès com um sorriso doloroso.

- Na realidade, minha mãe, total, três mil francos, à primeira vista, e tenho a pretensão de, com esses três mil francos, proporcionar a ambos uma rica vida.

- Criança! - suspirou Mercédès.

- Por Deus, minha pobre mãe, infelizmente gastei-lhe dinheiro suficiente para lhe conhecer o valor! É enorme, acredite. Três mil francos... Com esta importância conseguirei um futuro miraculoso de eterna segurança.

- Falas assim, meu amigo - continuou a pobre mãe -, mas primeiro é preciso saber se aceitamos esses três mil francos.

- Parece-me que isso está assente - redarguiu Albert em tom firme. - Aceitamo-los, tanto mais que não os temos, pois estão, como sabe, enterrados no jardim dessa casita das Alamedas de Meilhan, em Marselha. Com duzentos francos, iremos ambos a Marselha.

- Com duzentos francos! - exclamou Mercédès. - E onde estão eles, Albert?

- Oh, quanto a isso não se preocupe! Informei-me nas diligencias e nos vapores e fiz os meus cálculos.

Reservámos-lhe lugar para Chalon na diligência; como vê, minha mãe, trato-a como um a rainha... São trinta e cinco francos.

Albert pegou numa pena e escreveu:

Diligência - 35 francos

De Chalon a Lião, de vapor - 6 francos

De Lião a Avinhão, também de vapor - 16 francos De Avinhão a Marselha - 7 francos

Despesas de viagem - 50 francos

Total - 114 francos

- Ponhamos cento e vinte - acrescentou Albert, sorrindo. Como vê, sou generoso, não é verdade, minha mãe?

- Mas tu, meu pobre filho?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069