— Minha senhora… que vale a Pátria, em comparação da honra que V. Exa. me dá?! — atalhou Calisto Elói, com o coração nos lábios a sorrir e a tremer.
— Sou brasileira. Pela fala me terá já conhecido…
— Sim, eu estava notando no falar de V. Exa. uma graça indizível…
— Meu pai era português, capitão-de-mar-e-guerra. Foi de Portugal com D. João VI, e casou no Rio de Janeiro com minha mãe, senhora de boa linhagem, mas de pouquíssimos recursos. Nasci em 1830, e casei em 1846 com um oficial general do exército do imperador do Brasil. Meu marido tinha sessenta e seis anos. Emigrara em 1834, com a patente de brigadeiro dada por D. Miguel, tendo sido coronel ainda no reinado de D. João. Gonçalo Teles ofereceu a sua espada e inteligência a D. Pedro II, serviu bravamente a império, e subiu em postos. Eu vivia órfã de pai e mãe, na companhia de parentes maternos, que pensavam constantemente em me dar posição. Casaram-me, e, se me não fizeram feliz, deram-me pai, amigo e mestre na pessoa de Gonçalo Teles. Há dois anos que meu marido morreu. Deixou-me pouco, porque ninguém pode granjear muito com honra, principalmente na vida militar. Pouco antes de cair enfermo, me disse que, se algum dia me faltassem recursos e benefícios do Governo brasileiro, viesse a Portugal e procurasse o amparo de alguns grandes fidalgos, seus parentes, que ele me nomeou um por um; e ajuntou que, se os parentes me não amparassem, pedisse ao Estado uma tença, em atenção aos muitos serviços que ele fizera à Pátria em trinta anos, até o dia em que foi promovido a coronel de cavalaria.