Há três meses que cheguei a Lisboa. Procurei os parentes do meu marido. Apeei à porta de grandes palácios, e esperei largas horas em grandes salas de espera, como viúva que anda requerendo esmola. Enganaram-se.
Alguns, por mais tratos que deram à memória, já não conseguiram lembrar-se de Gonçalo Teles de Teive Ponce de Leão; outros, os mais velhos, recordavam-se do sujeito, e lastimavam que ele deixasse o serviço da Pátria. Quando eu não tinha mais que lhes dizer nem eles a mim, levantava-me, eles levantavam-se, e despedíamo-nos cerimoniosamente. A altivez com que eu os desprezo, Sr. Barbuda, autoriza-me a dizer-lhe que os miseráveis são eles. Eu tenho comigo a riqueza do meu orgulho; e, se conservo os apelidos de meu marido, é porque ele foi talvez o único de sua raça que os não desdourou…
— Diz V. Exa. muito bem — atalhou Calisto. — Que nobre alma as suas palavras me manifestam!
— Há dias, por não ter de portas a dentro coisa que me distraísse de pensares melancólicos, fui ao Parlamento. Segui umas senhoras que iam subindo para as galerias. Um homem pediu-me o meu bilhete de admissão; eu não tinha bilhete, e ia descer algum tanto envergonhada, quando um deputado, cortesmente, me disse: «Aqui tem uma entrada, minha senhora.» Agradeci, posto que a minha vontade seria rejeitar. Entrei, quando V. Exa. começava a falar. Impressionou-me a sua eloquência chã, os seus ares graves, a compostura, um não sei quê mais sério que os seus anos, permita-me assim falar. E, ao mesmo tempo, lembrou-me a recomendação de meu marido, respectivamente aos direitos que ele tinha de ser remunerado na pessoa de sua viúva.