Casos houve em que ela o surpreendeu com os olhos marejados de lágrimas e um sorriso nos lábios, sorriso suplicante, de perdão para as lágrimas. Outros casos houve em que ela sentiu ferver-lhe o desejo de lhe pedir que, em vez de lágrimas, lhe desse um beijo na face, um daqueles beijos que não tiram nada à formosura do corpo nem da alma, porque no rosto aumenta o rubor — o que é belo —; e na alma convencem a consciência da adoração — o que é sublime. Difícil será achar a virtude que se furta a estes conflitos! Virtude, que se esconde e encolhe para não ser alcançada pela flecha de um beijo, às vezes acontece que, por muito esquivar-se, apouca-se, vapora-se, safa-se e ninguém sabe como ela se foi, nem como é possível que um vaso fechado de essências aromáticas apareça vazio sem ter sido quebrado. Este caso, naturalmente, anda explicado na estética. Eu hei-de ver o que é isto quando tiver vagar.
Vamos já rodeando por longe dos ciúmes de Calisto Elói. Revertamos ao assunto.
Ifigénia tomou-lhe amorosamente da mão e disse-lhe:
— Meu primo, eu não quero ler em sua alma uma página que se não pareça com as outras. — Pois que é, prima?… — perguntou ele enleado e tremente. — Eu não quero ter de justificar-me — tornou ela balbuciante. — Justificar-se… — Sim. Duas palavras que bastem a definir-me. Se eu perder a sua amizade, quero morrer. Veja quanto eu farei para lha merecer.
Calisto dobrou o joelho, e beijou a mão, que lhe estreitava calorosamente a dele.
Houve silêncio de alguns minutos.