A Queda de um Anjo - Cap. 27: Capítulo 27 Pág. 154 / 207

Casos houve em que ela o surpreendeu com os olhos marejados de lágrimas e um sorriso nos lábios, sorriso suplicante, de perdão para as lágrimas. Outros casos houve em que ela sentiu ferver-lhe o desejo de lhe pedir que, em vez de lágrimas, lhe desse um beijo na face, um daqueles beijos que não tiram nada à formosura do corpo nem da alma, porque no rosto aumenta o rubor — o que é belo —; e na alma convencem a consciência da adoração — o que é sublime. Difícil será achar a virtude que se furta a estes conflitos! Virtude, que se esconde e encolhe para não ser alcançada pela flecha de um beijo, às vezes acontece que, por muito esquivar-se, apouca-se, vapora-se, safa-se e ninguém sabe como ela se foi, nem como é possível que um vaso fechado de essências aromáticas apareça vazio sem ter sido quebrado. Este caso, naturalmente, anda explicado na estética. Eu hei-de ver o que é isto quando tiver vagar.

Vamos já rodeando por longe dos ciúmes de Calisto Elói. Revertamos ao assunto.

Ifigénia tomou-lhe amorosamente da mão e disse-lhe:

— Meu primo, eu não quero ler em sua alma uma página que se não pareça com as outras. — Pois que é, prima?… — perguntou ele enleado e tremente. — Eu não quero ter de justificar-me — tornou ela balbuciante. — Justificar-se… — Sim. Duas palavras que bastem a definir-me. Se eu perder a sua amizade, quero morrer. Veja quanto eu farei para lha merecer.

Calisto dobrou o joelho, e beijou a mão, que lhe estreitava calorosamente a dele.

Houve silêncio de alguns minutos.





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