— Eu sei cá?… — disse ela alimpando as lágrimas.
— Pois duvidas, Teodora?
— Tu tens sido um estroina com mulheres…
— E não sabes porquê?
— Não…
— Desesperado por te encontrar casada, quando cheguei de Coimbra, não tratei mais de me ligar seriamente ao coração de mulher nenhuma. Queria distrair-me, e fazia desatinos que me tornavam ainda mais desgraçado. A minha consolação única era estar alguns momentos ao pé de ti; mas quantas vezes eu saía do teu lado com o coração cheio de fel!… Nunca te disse uma palavra por onde tu desconfiasses o meu estado, pois não?
— Tu o que me dizias às vezes é que estavas aflito por causa de dívidas, eu dava-te o dinheiro que podia arranjar…
— É verdade: foste sempre o meu bom anjo, prima; mas olha que essas mesmas dívidas as fazia eu para poder sair destes sítios; ia para as feiras, para as caldas, para toda a parte à busca de distracções, e não achava coisa que me distraísse de ti o pensamento. Toda a gente da nossa parentela me aborrecia, menos tu. Ora imagina, prima, que tormentosa vida a minha desde os dezanove anos! Amar-te, amar-te sempre, e ver-te mulher de outro homem; e, de mais a mais, de outro homem indigno de ti! Céus! que martírio! que martírio!
Lopo cobriu a cara deslavada com as mãos enormes.
Teodora estava como lorpa a olhar para aquilo, sem poder atinar com as sensações atrapalhadas que aquelas palavras lhe causavam.