Ergueu-se o velhaco de golpe, e disse:
— Adeus, prima; eu estou profundamente magoado com a tua desgraça; doem-me mais os teus pesares que os meus. Disse-te o que me pareceu razoável a respeito de teu marido, desse cruel que me roubou a mulher do meu coração, da minha alma, da minha vida, e da minha morte. Adeus, prima!
— Tu vais aflito, Lopo! — exclamou ela, ressaindo do espasmo tolo em que estivera. — Vem cá; se te aconteceu alguma desgraça, remedeia-se como puder ser.
— Há doenças sem remédio, prima. A minha é mortal.
— Então que tens, primo?
— Dói-me a certeza de que estou morrendo desde o primeiro dia da tua união com este homem!… a certeza de que o hás-de amar sempre, ainda que ele te despreze como já te desprezou.
— Pois se ele é o meu homem recebido à face do altar!…
— Por isso, por isso, é que eu perdi o teu amor, Teodora!…
— Pois eu sou casada, bem no sabes, senão teria casado contigo.
— Não falemos mais nisto — atalhou com muita serenidade Lopo. — Já chorei, e fiquei melhor! — continuou ele esborrachando os olhos até eles reverem água. — Estas lágrimas estavam aqui no peito há vinte anos. Foi bom que tu as visses para que saibas que o homem que chora por ti bem mais te merecia que o outro que te despreza… Queres mais alguma coisa de mim, prima? Queres que eu escreva a teu marido, e lhe diga que seja honrado e digno da melhor das esposas? Queres que eu mesmo o vá procurar a Sintra?
— Se tu lá fosses, Lopo, não seria mau! — disse ela.