Reparou Calisto que no camarote de Duarte Malafaia, marido de D. Catarina Sarmento, entrara um sujeito que lhe não era desconhecido. Examinou-o com o binóculo, e reconhecera aquele D. Bruno de Mascarenhas, a quem ele se apresentara na qualidade de anjo-custódio de D. Catarina. Sorriu-se o morgado para dentro porque lhe já não ficava bem indignar-se por dentro nem por fora. A esposa de Duarte, segundo parecia, raro relance de olhos desfechava sobre o perturbador da sua consciência de outro tempo. O morgado entendeu que a esposa regenerada reincidira na velha culpa. Enganara-se. Permanecia ainda o salutar efeito da façanha moralizadora de Calisto Elói. Bruno era odioso a Catarina: o anjo advogado dos maridos a estava sempre lustrando com as lágrimas do arrependimento. Não sei se o morgado da Agra levará ao desconto do juízo final duas acções que pesem tanto como esta na balança.
Passaram dois meses sem que D. Teodora escrevesse ao marido. Embargada no leito pela enfermidade, que a pôs em começos de tísica, a pobre senhora, esteada no amparo da piedade, fazia penosas promessas a santos da sua particular devoção, pedindo-lhes a amizade e restituição do marido. Desta feita, pelo que a gente está vendo, os santos não levaram a melhor da legião de demónios que ressaltam dos olhos de uma brasileira galante. Não obstante, a protecção dos privados do céu valeu-lhe o levantar-se da cama, e convalescer-se com leite de jumenta e óleo de fígado de bacalhau. Mas o coração estava ainda, e cada vez mais, encancerado; a saudade crescia consoante a ausência e desprezo do marido aumentavam.