Avizinhou-se de Libório, que o encarou com semblante de cor incerta.
— O colega por aqui? — disse o doutor. — Reminiscências me não acodem de havê-lo visto na plateia!
Calisto, sem o fitar no rosto, respondeu:
— Venho ver as dimensões das suas orelhas.
— Como assim!… — balbuciou Libório.
— Tenciono puxar-lhas até à boca, no propósito de tapar com elas um riso alvar que vossa mercê tem, e que me incomoda grandemente. Veja lá se a operação lhe convém aqui ou lá fora.
— Não compreendo a razão do insulto! — disse Libório.
— Será lá fora — concluiu Calisto e saiu.
A gente que rodeava o doutor portuense comportou-se bem: cada qual dizia de si para consigo que, se o caso fosse com ele, o provinciano engoliria a injúria com uma bala; assim, como não era com eles o caso, Calisto mereceu a Deus a felicidade de não ser varado de balas.
O que passa como certo é que Libório nunca mais franziu um riso voltado para a frisa de Ifigénia.
Numa dessas noites, estava na frisa fronteira à de Calisto a família Sarmento. Adelaide não despregava o óculo de Ifigénia, salvo quando Catarina lho tirava da mão, para lho assestar.
Calisto exultava de delícias incomparáveis. Era a vingança, a carapinhada dos deuses num meio dia de Julho, a vingança de amador menoscabado. Este cuidar que se vingam, mulheres e homens, é inépcia de marca maior, a que não houve esquivar-se aquele sujeito de condição muito ajuizada, se o confrontamos com outros, a quem o amor aleijou de todo em todo.