— Essa mesma é que eu quero ver — disse D. Teodora. — Quem lhe hei-de eu dizer que a procura?
— Diga-lhe que é uma pessoa.
A este tempo estava já na janela a Sra. D. Tomásia Leonor, cuja atenção fora chamada pelo desabrimento do diálogo.
— Quem é a senhora? — perguntou a viúva do tenente.
D. Teodora empertigou o pescoço, e, como visse uma mulher de touca parda e já avelhantada, conjecturou que falava com uma criada.
— Quero falar à senhora viúva.
— Abra a porta, José — disse D. Tomásia ao criado.
Subiu a fidalga com o tio, entraram na sala de espera, que já estava aberta, e daí a pouco entravam noutra sala, que era a das visitas.
D. Teodora olhava em derredor de si por sobre aqueles riquíssimos mognos e mármores, e dizia entalada:
— Olha o meu dinheiro por onde anda!…
Paulo benzia-se e murmurava:
— Parece o palácio do rei!
D. Tomásia demorara-se a mudar de touca, de casebeque e botinhas. Entrou na sala com o garbo de lisboeta, e disse a D. Teodora:
— Eu desejo saber com quem tenho a honra de falar.
— Então a senhora é que é viúva?
— Eu é que sou a viúva do tenente de infantaria 13, João da Silva Gonçalves. Dar-se-á caso que V. Exa. seja uma prima que meu marido tinha na província do Minho?
— Não sou quem vossemecê pensa.
— Então tem a bondade de dizer…
— Pois a senhora é que é a tal pessoa?… — tornou Teodora, já menos raivosa que espantada do depravado gosto do marido.
— Que pessoa? Não sei de quem a senhora fala.