— Minha sobrinha veio comigo — observou o velho.
— Veio?! Coitada da infeliz senhora! Quanto desejava eu poder ir cumprimentá-la; mas, como estou indisposto com o Sr. Barbuda, não quero que ele me julgue capaz de irritar sua consorte com os meus despeitos. Pois, senhor, se sua sobrinha quiser ver a pompa e luxo com que está vivendo a manceba de seu marido, que vá à rua de S. João dos Bem Casados, e veja o palácio que está ao cimo da rua, onde os vizinhos dizem que mora a chamada «fidalga brasileira».
— Faz favor de tornar a dizer? — pediu Paulo desenrolando o nastro de uma enorme carteira escarlate, para fazer nota da residência da brasileira.
— Se eu lhe prestar de alguma coisa, aqui estou como principal amigo que fui do desgraçado Sr. Calisto Elói — ajuntou o abade de Estevães.
Ao fim da tarde deste dia, D. Teodora, que fremia de raiva desde que o tio lhe revelou as informações do padre, entrou com o velho numa sege de praça, por lhe dizerem que era muito longe a rua S. João dos Bem Casados.
Apeou à porta do palacete, que um logista lhe indicou. Perguntou ao criado, que lhe falou por um postigo da cavalariça, se estava em casa o Sr. Calisto.
— Não mora aqui — disse o lacaio.
— Mora aqui! — teimou D. Teodora.
— Já lhe disse que não mora aqui — recalcitrou o criado.
— Então aqui não está uma mulher viúva?
— Mulher viúva?
— Sim.
— Está lá em cima uma mulher viúva, que é a governante da casa.