— A amásia de meu marido…
— Amásia de seu marido!… Cruzes!… A senhora veio enganada… Eu sou uma viúva honrada; chamo-me Tomásia Leonor. Quem é o marido da senhora?!
— Meu marido é o deputado Calisto Elói. Já sabe.
— Ah! — exclamou Tomásia.
— Então V. Exa. é esposa do Sr. morgado…
— Já me conhece?! — disse sorrindo ferozmente Teodora. — Ora ainda bem.
— Agora tenho a honra de a conhecer; mas eu não sou a pessoa que V. Exa. procura. Bem vê que sou uma mulher de idade, e por desgraça estou aqui nesta casa da prima do Sr. morgado como dispenseira e aia da fidalga.
— E que é da tal fidalga?
— Anda a viajar pela Europa.
— Onde é a Europa? — perguntou D. Teodora colérica.
— A Europa é este mundo por onde anda a gente, minha senhora — respondeu prontamente a viúva, sorrindo da ignorância da outra.
— Mas é longe onde está a tal prima do meu marido?
— Muito longe: eles já embarcaram há seis dias… Deus sabe onde eles estão agora.
— Pois foram os dois? — bradou Teodora, sacudindo murros fechados.
— Foram, sim, minha senhora.
— E quando voltam?
— Quem sabe!… Os fidalgos não disseram nada; pode ser que passem alguns meses lá fora.
— Raios os partam! — vociferou Teodora.
— Deus os defenda! — emendou Tomásia. — Pois V. Exa. deseja tanto mal a seu marido, que é um anjo, e a sua prima, que é um serafim!…
— A minha prima?! — ululou a morgada.
— Sim, minha senhora; pois tão prima é ela do marido de V. Exa. como sua.