O orador: — Quando aquele senhor me chamou sandio, não foi violada a ordem? (Apoiados.) Ora pois: eu não quero desordens. Vou pacificamente responder ao Sr. deputado, como souber e puder. Estou a desconfiar que a minha linguagem seca e desordenada raspará nos ouvidos da Câmara, que ainda agora se deleitou com a retórica florida do Sr. deputado do Porto. Sou homem das serras. Criei-me por lá no trato fácil e chão dos velhos escritores; aprendi coisa de nada, ou pouquíssimo. A mim, todavia, me quer parecer que o falar gente palavras do uso comum é coisa útil para nos entendermos todos aqui, e para que o País nos entenda. Do menospreço desta utilidade resulta não poder eu aperceber-me de razões para cabalmente responder aos argumentos do discreteador mancebo. Percebi, a longe, pouquinhas ideias; porém, querendo Deus, hei-de, se me ajudar a paciência com que estudei o idioma de Tucídides, decifrar os dizeres de S. Exa. no Diário das Câmaras. (Riso.)
O ilustre deputado quer que o luxo indique a riqueza das nações. Isto é o que eu entendi do seu arrazoamento. Em França viu S. Exa. mosquitos por cordas. Pois, Sr. presidente, eu li que, em França, onde o luxo é maior aí é menor, em proporção, o número dos indivíduos ricos. (Vozes: Apoiado!) Este caso, se é verdadeiro, corta pela haste as flores todas dos jardins oratórios do Sr. Dr. Libório. Que mais disse S. Exa.? Faça-me a graça do mo achanar na linguagem caseira com que o diria à sua família em prática como do lar, consoante fraseia D. Francisco Manuel de Melo na Carta de Guia.