A Queda de um Anjo - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 70 / 207

— Pode V. Exa. falar, que eu fecho a porta — disse o confuso Mascarenhas.

- O Sr. Bruno de Mascarenhas — prosseguiu o morgado — é solteiro. Cedo ou tarde há-de ser casado, porque é varão de preclaríssima linhagem, e duas forças invencíveis hão-de compeli-lo a propagar-se: o sentimento congénito da espécie, e a glória, que vanglória não é, da prossecução da raça.

(Este exórdio abrupto envencilhou os espíritos de D. Bruno, os quais eram pouco entendidos em estilo garrafal.)

— Façamos de conta — prosseguiu Calisto — que V. Exa. é hoje, como será, volvidos meses ou anos, casado com uma dama igual em sangue, de honrada fama, acatada do conceito geral, dama enfim, na qual V. Exa. empregou suas complacências todas. À boa dita de esposo sucede-lhe a prosperidade de pai. Vê V. Exa. em redor de si umas alegres criancinhas, que o beijam e o furtam, com graciosas blandícias, às graves cogitações dos negócios, e aos aborrecimentos que salteiam as existências mais descuidadas e desprendidas. A mãe dos filhinhos de V. Exa. é o cofre de oiro; as crianças são as jóias inestimáveis que V. Exa. lá encontrou e lá encerra. A mãe é a flor, os filhos são o fruto. V. Exa. arde de amores deles e dela. Porque a sua família é não somente a sua alegria doméstica, senão que lhe é fora de casa um pregão da honestidade e honra que vai nela. De repente, quando V. Exa. está meditando nos júbilos da velhice, com seus filhos já homens, com sua esposa laureada pelas cãs sem mácula, de repente, digo, há um amigo em lágrimas, ou um inimigo secretamente satisfeito, que lhe diz: «Tua mulher desonra-te; essas crianças, que tu afagas, e para quem estás multiplicando os teus haveres, podem não ser teus filhos, porque tua mulher prevaricou.»





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