Interrogou o criado com mau semblante o morgado. Calisto escreveu numa página rasgada da carteira, e perguntou ao criado se sabia ler. Disse que não o interrogado.
— Pois entrega esse papel a S. Exa..
D. Bruno leu, meditou algum espaço, e perguntou:
— Sabes se em casa do desembargador Sarmento há algum criado chamado Custódio?
— Não, senhor, não havia até ontem; só se entrou hoje.
— Esse homem que aí está dá ares de criado?
— Não, senhor: é assim um jarreta vestido à antiga, com uma gravata que parece um colete.
— Manda-o entrar para aqui.
D. Bruno releu a linha escrita a lápis, e disse entre si:
— Que Custódio é este!? Nisto, assomou Calisto Elói. Bruno de Mascarenhas adiantou-se a recebê-lo, e disse-lhe maravilhado:
— Eu já tive a honra de cumprimentar V. Exa. no escritório da Nação. V. Exa. é o Sr. Calisto Elói de Barbuda.
— Sou, e agora me recordo que já tive o prazer de o encontrar…
— Mas V. Exa. neste bilhete diz que é Custódio! — tornou Bruno.
— Custódio, que é sinónimo de anjo-da-guarda, ou anjo-custódio da Exma. Sra. D. Catarina Sarmento.
Abriu o moço a boca, e disse:
— Ah!… agora é que eu percebo… Mas… queira V. Exa. sentar-se… Eu não sei que alusão possa ser esta… que… a respeito de…
Calisto sentou-se, estendeu o braço direito com a mão aberta, e atalhou o enleio de Bruno, dizendo solenemente:
— Vou falar.
E, após curta pausa, relanceou discretamente os olhos à porta, como quem receia ser ouvido.