— Não sei… — respondeu Bruno. — Só no caso de se darem as circunstâncias que V. Exa. diz é que se pode responder.
— Todavia, o seu entendimento e coração, já antes da experiência, podem antever qual deva ser a agonia do marido desonrado pela ignomínia de sua mulher…
— Sim…
— Até aqui a hipótese em V. Exa.; agora o exemplo em Duarte de Malafaia, marido de D. Catarina Sarmento. Duarte era rico, e dos mais fidalgos; por excesso de amor casou com D. Catarina, filha de um nobilíssimo cavalheiro, porém magistrado empobrecido pelos desconcertos da política. Duarte entrou naquela casa, restaurou a decência antiga, e encostou ao seio as cãs do magistrado octogenário, assegurando-lhe o sossego e contentamentos dos anos últimos da vida. Decorridos cinco anos, Duarte tem cinco filhos. São anjos que descem a povoar o paraíso daquela ditosa família. Brincam à volta de sua mãe, e como que lhe estão dando os alegres emboras da felicidade que ele está gozando, e lhe augura a eles. É neste ensejo que o inferno se abre aos pés desta família honrada e ditosa. Surge das tenebrosas agonias um homem que despedaça às mãos os laços humanos e divinos da santa união do velho, da filha, do genro, e dos netos.