A Queda de um Anjo - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 79 / 207

— Pois sejam todos muito boas testemunhas da quantia que recebo da Exma. Sra. D. Adelaide, minha senhora — disse Calisto, esvaziando a bolsinha.

Com as moedas de prata e oiro, que a bolsa continha, saiu um pequeno coração de oiro esmaltado com iniciais.

— Ah! — acudiu Adelaide pressurosa — isto não!… — E retirou sofregamente o coraçãozinho.

Algum dos circunstantes disse:

— Então o Sr. morgado não serve para administrar corações?!

— Serve para os dominar com a sua bondade, e enchê-los de afectuosa estima — respondeu com adorável graça a menina.

Foi neste instante que o morgado da Agra de Freimas sentiu no lado esquerdo do peito, entre a quarta e a quinta costela, um calor de ventosa, acompanhado de vibrações eléctricas, e vaporações cálidas, que lhe passaram à espinha dorsal, e daqui ao cérebro, e pouco depois a toda a cabeça, purpureando-lhe as maçãs de ambas as faces com o rubor mais virginal.

Disto não deu tento Adelaide nem a outra gente.

Duas enfermidades há aí cujos sintomas não descobrem as pessoas inexpertas: uma é o amor, a outra é a ténia. Os sintomas do amor, em muitos indivíduos enfermos, confundem-se com os sintomas do idiotismo. É mister muito acume de vista e longa prática para discriminá-los. Passa o mesmo com a ténia, lombriga por excelência. O aspecto mórbido das vítimas daquele parasita, que é para os intestinos baixos o que o amor é para os intestinos altos, confunde-se com os sintomas de graves achaques, desde o hidrotórax até à espinhela caída.





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