Calafrio - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 37 / 164

Por certo que esse tipo de capacidade me abandonou por completo: o período de espera a que me entreguei não pode ter durado tanto quanto me pareceu. O terraço e o espaço que o rodeava, o relvado e o jardim, toda a arca do parque que a minha vista podia abarcar, não podiam estar mais vazios. Apesar dos arbustos e das árvores de grandes dimensões que ali havia, lembro me Paramente de não poder estar mais certa de que o homem não se escondera atrás de nenhum destes elementos. Ou ele estava ali ou não estava, e, dado não poder vê-lo, então era porque não estava. Em seguida, deixando-me guiar pelo instinto, ao invés de regressar a casa, optei por dirigir-me à janela. Algo me dizia confusamente ser minha obrigação colocar-me no lugar onde ele antes estivera. E assim fiz. Colei o rosto à vidraça e espreitei para dentro da sala, imitando deste modo o procedimento do homem. Foi então que, talvez para me revelar aquilo que lhe fora permitido contemplar, Mrs. Grose entrou no aposento, dando-me assim a oportunidade de assistir à repetição do que anteriormente ocorrera. Tal como eu vira o desconhecido, assim ela me viu; tal como eu me imobilizara de repente, assim ela se imobilizou. A verdade é que eu acabara de provocar nela algo do choque que em mim fora provocado. A mulher empalideceu, o que me levou a perguntar se também eu ficara assim tão branca. Depois de me fitar durante alguns instantes, Mrs. Grose deu meia volta e, seguindo o meu exemplo, saiu de casa, atravessou o terraço, e a qualquer momento surgiria à minha frente. Deixei-me ficar onde estava, e, enquanto esperava, foram várias as coisas em que pensei. Contudo, apenas uma era digna de nota: por que motivo estaria ela assustada?





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