Ainda antes de a luz do dia entrar pela janela do quarto, abri os olhos e fui confrontada com a imagem de Mrs. Grose, que ali se dirigira para me dar péssimas notícias. Flora sentia-se de tal forma febril que só podia estar prestes a adoecer. Passara uma noite agitadíssima, pois o medo que sentia não a deixava conciliar o sono. Contudo, o objecto dos seus receios não era a antiga preceptora, mas eu mesma. Não era contra um possível regresso de Miss Jessel ao cenário que a garota protestava, mas sim, e de um modo apaixonado, contra mim. Saltei da cama assim que escutei aquilo. Tinha uma série de perguntas a fazer, e queria as respostas quanto antes, sobretudo porque tudo indicava que a minha amiga estava prestes a investir de novo contra mim. Este ponto tornou-se bastante claro assim que a interroguei a respeito do que pensava sobre o comportamento de Flora.
— Ela continua a dizer-lhe que nunca viu coisa alguma?
A agitação foi evidente no rosto da mulher.
— Ah, menina, ai está uma coisa a respeito da qual não posso forçá-la. De qualquer maneira, a verdade é que não foi preciso. Tudo isto fê-la crescer imenso!
— Oh, é como se estivesse a vê-la! Sente-se of endida por terem duvidado da sua palavra e da sua respeitabilidade. «Miss Jessel, sim, sim... Ela! Ela sim, é respeitável»! O seu comportamento ontem foi mesmo muito estranho. Nunca tinha visto nada assim. Só posso ter posto mesmo o dedo na ferida! Ela nunca mais volta a dirigir-me a palavra.