A impressão com que ficara depois daquela aventura nocturna acabara por mostrar-se, pelo menos aos olhos de Mrs. Grose, não muito consistente, embora a tenha reforçado mencionando um outro comentário feito pelo garoto antes de nos separarmos.
— Está tudo em apenas algumas palavras — disse-lhe eu. — Em palavras capazes de dar-nos uma ideia clara do que realmente se passa. «Agora já sabe aquilo que eu poderia fazer.» Ele disse isto para me mostrar como até é um bom garoto. Ou seja, ele sabe perfeitamente aquilo que poderia fizer. Aposto que o que o nosso Miles fez na escola foi dar-lhes uma amostra das suas capacidades.
— Meu Deus, como a menina muda de opinião com facilidade! — exclamou Mrs. Grose.
— Não, de maneira nenhuma, apenas vou tirando as minhas conclusões. Os quatro, e disso a minha amiga pode ficar certa, encontram-se frequentemente. Se numa destas noites tivesse estado com um deles, também o saberia. Quanto mais obsceno e espero, mais me convenço de que, caso não houvesse outras coisas a que me agarrar, bastaria o silêncio sistemático daqueles dois para sentir que estou certa. Nunca, mas mesmo nunca, fizeram qualquer referência aos velhos amigos, da mesma forma que Miles nada comentou a respeito da sua expulsão. Oh, sim, podemos estar aqui sentadas a olhar para eles enquanto os dois nos brindam com uma amostra daquilo que sabem que queremos ver. Mas, mesmo quando fingem andar perdidos num mundo de contos de fada, não fazem mais que pensar nas imagens dos mortos que lhes foram restituídos. Ele não está a ler para ela — declarei, convicta. — Estão a falar deles. . . estão a dizer coisas terríveis! Oh, sim, bem sei que o meu discurso é o de uma louca, e nem compreendo como ainda não enlouqueci. Aquilo que tenho visto decerto já a teria posto doida. Mas, no meu caso, apenas serviu para que o meu raciocínio se tornasse mais lúcido e para que me apercebesse de outras coisas.