Quando ela partiu e me vi sozinha naquela casa compreendi que o pior estava para vir. Se contava com o facto de ficar a sós com Miles para resolver a situação, então a hora da verdade estava próxima. Em nenhum momento da minha estada em Bly me senti tão apreensiva como naquele em que, ao descer as escadas, fui informada de que a carruagem transportando a minha companheira e a minha jovem aluna acabara de passar o portão. Disse para mim mesma que nada mais tinha a fazer para além de enfrentar a situação recorrendo aos meus próprios meios, e, durante o resto do dia, dando tudo por tudo para afastar qualquer sentimento de fraqueza, vi-me confrontada com a ideia de que agirá com uma velocidade espantosa. De momento, sã muito a custo as coisas poderiam parecer pior, sobretudo porque, pela primeira vez, o rosto dos demais habitantes da casa revelavam sinais de desconcerto. Como seria de esperar, o que acontecera deixara-os perdidos, pois pouco ou nada sabiam a respeito dos motivos que haviam levado a minha colega a partir com tamanha rapidez. Tanto as criadas como os restantes empregados pareciam não saber como agir, e o facto deixou-me de tal forma nervosa que acabei por compreender que estava na hora de actuar. Teria de agarrar o leme a tempo, a fim de evitar o naufrágio, e atrevo-me a dizer que, para levar o barco a bom porto, consegui manter-me imponente e calma. Fiquei feliz ao compreender as dimensões gigantescas da tarefa que me esperava, e procurei deixar bem claro como estava disposta a agir com firmeza. Assim, durante uma ou duas horas, percorri a casa de uma ponta à outra dando ordens e certificando-me de que estas eram cumpridas — com a dor escondida no coração.