Juntar-me a eles não representou grande problema para mim, mas falar-lhes, isso sim, provou ser um esforço muito para lá das minhas forças, já que me via confrontada com dificuldades impossíveis de ultrapassar. Esta situação fez-se sentir durante um mês e sofreu ainda algum agravamento: pela sensação cada vez mais aguda de que os meus pupilos me tratavam com visível ironia. Tal como então, ainda hoje estou convencida de que nada daquilo era fruto de um excesso de imaginação — era evidente que eles estavam conscientes da situação perigosa em que me encontrava, e, a longo prazo, o ambiente em que nos movíamos foi condicionado por este estranho relacionamento. Isto não quer de maneira alguma dizer que os garotos tenham dito ou praticada algo errado. Aquilo que quero dizer é que aquele elemento impossível de nomear, impossível de tocar, se tornou de tal forma evidente entre nós que sã graças a um grande esforço tácito se evitaram as confrontações. Era como se, em determinadas alturas, estivéssemos constantemente a tropeçar em assuntos impossíveis de abordar, depois do que nos víamos obrigados a meter por atalhos que se revelavam becos sem saída, o que nos fazia fitar os rostos uns dos outros com aquele olhar de espanto resultante do facto de termos aberto portas que deveriam permanecer fechadas. É certo que todos os caminhos levam a Roma, e alturas houve em que nos apercebemos de que todos os tópicos de estudo ou discussão desembocavam em terreno proibido. Por terreno proibido entenda-se a questão do regresso dos mortos em geral e de tudo aquilo que, de forma particular, se encontrava relacionado com os amigos que aquelas crianças haviam perdido. Dias houve em que era capaz de jurar que, com um simples movimento de cabeça, um dos irmãos se virava para o outro é assim!» «Conseguir» teria sido, por exemplo, e de uma forma ou de outra, levá-los a fazer qualquer referência directa à senhora que os preparara para mim.